quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dia dos Professores: quem são nossos professores de História?

Amigos e amigas, discutindo questões sobre a esquerda e a direita em nosso país (em que acredito hoje não ser possível, visto que são todos iguais: políticos profissionais, partidos profissionais, sem orientação e atuação ideológicas) acabei sendo levado a pensar sobre Educação, e então rememorei a minha formação como professor de História no UNIBH entre os anos de 2003/2006.

Quem são os futuros professores de História em nosso país? Tomo como exemplo, como ponto de partida para possíveis respostas, a minha experiência pessoal nos 4 anos como estudante de graduação nesta instituição de nível superior mineira.

A maioria, como aponta estatísticas do MEC, faz uma licenciatura mas acaba não entrando em sala de aula. Formam-se professores e estes não querem e não exercem a sua profissão! O caos é maior em áreas como Física e Química, onde de cada 10 professores em sala de aula 7 não são nem físicos e nem químicos por formação.

Assim, uma boa parte de nossos futuros professores de História jamais serão, efetivamente, professores. Permanecerão fora da sala de aula, por razões simples: os salários e condições de trabalho não são nada atrativos, e isso eu sei muito bem.

Agora nos restam os que, como eu, exercem a profissão que escolheram, sendo professores de História e atuando, principalmente, nas escolas públicas das mais variadas redes de ensino do país. Estes se dividem em dois grupos distintos: bonecos e vagabundos de um lado, e de outro profissionais com personalidade e indivíduos independentes.

Me incluo no segundo grupo, com folga. Tinha comprometimento com minha formação, realizava meus estudos com empenho, demonstrava vontade em aprender e sabia dividir o que sabia com colegas e professores, mesmo que estes discordassem de minhas posições (o que não era raro). Não tinha medo de falar, de expor o que penso. Mas não possuía as amarras ideológicas do grupo mencionado anteriormente.

Mas falemos, criticamente, de nossos colegas débeis. Os chamados "bonecos e vagabundos" não possuem identidade, não são indivíduos, não pensam sozinhos e não possuem capacidade para isto (necessitam de um guru ideológico, de um professor revolucionário, de pessoas que lhe alimentem com falsas esperanças, com utopias velhas e que já tem gosto azedo a muito tempo). O lado vagabundo aflora sempre, não estudam, nem tem tempo pra isso porque estão ocupados com a política estudantil, com os movimentos sociais, com os bares da vida e com as drogas que lhes deixam sem capacidade de raciocínio (a maconha e a cocaína rolando soltas). São os esquerdolóides, são as viúvas dos modelos soviético-cubano-chinês e seus teóricos sem consistência (Lênin, Stálin, Trotski, Gramsci, Che, Fidel, Mao). Estes geralmente se formam como reprodutores da ideologia da velha esquerda, e quando chegam em nossas escolas públicas cospem, vomitam, este discurso nojento em nossos alunos e alunas (vejam o caso do livro didático "História Crítica" e as apontadas conquistas dos governos de Cuba e da ex-URSS, sem mencionar a censura a imprensa, o parentesco com outras formas de autoritarismo, os milhões de mortos, a intolerância).

Estes professores baseiam os seus planos de curso em análises do Capitalismo, nos males do Capitalismo, de como o Capitalismo foi construído historicamente e de maneira dialética desde a História Primitiva/apontada como Comunismo Primitivo (no sentido marxista), e nada mais fazem senão em pouco mais de 11 anos de ensino de História nos níveis fundamental e médio trabalhar muito mais "A História do Capitalismo" do que História mesmo.

A boa notícia, para nossos estudantes, é que estes professores de História "vagabundos e bonecos" não possuem longevidade profissional, pois acabam sendo engolidos pela lógica de mercado - que eles excluem ideológicamente e que não conseguem lidar com isso, ou seja, não são competitivos, e vocês certamente não os encontrarão em boas escolas. Eles ficarão confinados e presos as escolas mais desestruturadas, e lá eles permanecerão felizes, pois ao invés de dar aulas de História ele estará realizando mais um projeto social, mais uma ação social, o que lhe exige apenas boa vontade e não conhecimentos. Lógico, uns ou outros permanecerão confinados em algumas instituições de nível superior, onde todos juntos irão adorar o seu Deus mitológico: a revolução!

Enquanto isso, estou fazendo o meu trabalho, como bom profissional. A educação brasileira e meus alunos e alunas agradecem. Feliz dia dos professores, aliás dos verdadeiros professores.....que educam, que orientam, e que nunca doutrinam.

Abraços liberais, Tiago Menta.


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Discutindo "Che"

Amigos e amigas, não poderia deixar passar em branco, sem nada dizer ou pronunciar, como historiador que sou por profissão, algumas palavras sobre a figura revolucionária, inspiradora para muitos, hoje ainda em voga (mais pelo lado estético, menos pelo viés ideológico) - Ernesto "Che" Guevara.

"Che" é talvez a figura mais típica da Guerra Fria, daqueles anos o
nde o mundo se dividia entre capitalistas e socialistas. E neste arcabouço vieram a corrida espacial e armamentista, Stálin, Kennedy, Krutchev, Lindon Johnson, as ditaduras latino-americanas, as Revoluções na China e em Cuba, a guerra do Vietnã, e por fim Reagen, a dama de ferro inglesa, Gorbatchev, a queda do muro de Berlim, etc...

"Che" pertence a esta época não só fisicamente, mas primordialmente Che viveu de maneira "ideológica". Até em suas cartas mais pessoais, por exemplo enviadas para os filhos que mal convivera enquanto lutava pelos seus ideais, ele afirmava coisas do tipo "quando o imperialismo acabar o papai vai levar todos vocês para passear (...) estude minha filha, seja uma revolucionária (...) quando você crescer e ass
umir seu papel na luta você entenderá porque estou sempre distante de vocês (...)".

Porém é necessário reafirmar, nestes 40 anos passados, que "Che" morreu. Sim, ele está morto, e levara consigo uma época, uma ideologia. E o que hoje vemos como guevarismo é muito mais um estilo, um estilo arrojado e adolescente (conflituoso, desafiador), no sentido estético que ainda se faz representar (vendagem de camisetas, bonés, posters) do que propriamente o guevarismo representava nos idos dos anos 60 e 70 - uma opção política, uma via social, de luta, de guerrilha, alinhada com o projeto socialista que ainda pulsava naquele momento.

"Che" tornou-se uma marca mundialmente conhecida, não pelo homem que foi, mas como símbolo de rebeldia, metamorfoseado em uma espécie de James Dean da América Latina. Sua chama, com os tempos, vai se esvaindo pouco a pouco, até pela mercantilização da figura de "Che", e creio que esta chama encontrará o seu derradeiro final no dia, próximo, em que Fidel Castro, ditador cubano que governa a ilha socialista a mais de 40 anos, finalmente desencarnar e deixar o povo cubano
em paz.

Aqueles, poucos, mas ainda sobreviventes, que exalam certo guevarismo em nossas universidades e cursos d
e ciências humanas, são como coloca o professor Ghiraldelli "aborrecentes" que promovem o guevarismo utilizando-se, inapropriadamente do discurso de Marx. Ou seja, estudam Marx, lêem Marx, mas enxergam "Che" e escrevem, pobremente, como "Che".

"Che" que tentou, mas não conseguiu, transformar-se num teórico do socialismo. "Che" é uma espécie de "filho bastardo", junto com Fidel Castro, do m
odelo chinês da via socialista - a guerrilha. Mãe chinesa que dera a luz a manifestações tupiniquins, como José Dirceu (que treinou guerrilha em Cuba) ou o hoje ministro Franklin Martins (partícipe do sequestro do embaixador norte-americano durante nossa ditadura militar). "Che" tentou ler Hegel, e como diz em cartas "não consegui compreendê-lo", e ao citar as leituras que fazia dos textos de Karl Marx o citava pelo apelido de "São Carlos"! "Che" enviou ao ministro da educação cubano um programa de estudos para as escolas cubanas que incluía as leituras de Lênin, Stálin, Trotski, Martí. "Che", como todo bom comunista, quis inserir componentes ideológicos na educação, doutrinando-a.

E assim pintamos o retrato de Ernesto Guevara - médico medíocre, teórico medíocre, escritor medíocre, porém homem extremamente idealista (a ponto de alienar-se por completo como indivíduo), corajoso. Aqueles que ainda se inspiram em "Che" o fazem por não vislumbrarem outras saídas, verdadeiras, para os problemas latino-americanos - e isto ocorre por incompreensão da realidade e por l
eituras retorcidas e incompetentes do mundo contemporâneo. E fazem isso justificando a ação, a ação revolucionária, o socialismo prático e segundo estes, necessário. As Farc colombianas se alimentam disso até hoje.

Não há imperialismos no sentido que haviam nos anos 60, 70; não há mais uma via socialista, até porque o socialismo morreu definitivamente com o bloco soviético e seus filhotes; as guerrilhas de hoje são mais uma corja de bandidos do que
homens com verdadeiros ideais de transformação social; vivemos na arena globalizada, mundializada, e não mais cabe vislumbres de uma latinidade, de um projeto latino-americano; Che foi morto na Bolívia em 1967 e continua morto, duplamente: como ser e como símbolo ideológico. E quem ainda lhe concede alguma vida? O mercado. Quanta ironia, e se "Che" estiver no inferno a sua estadia será ainda mais dolorosa ao saber que as forças capitalistas hoje usufruem de sua imagem, transformada em milhões e milhões de camisetas e outros produtos.

"Che" é sucesso de vendas, "Che" é hoje, em 2007, um gerador eficiente de mais-valia. Parabéns Guevara....

Continuando a prosear sobre Ernesto "Che" Guevara, o professor Paulo Ghiraldelli Júnior me enviou um texto muito bom sobre o guevarismo camuflado de um pretenso marxismo que hoje se prolifera nos trabalhos acadêmicos.

Pobre professor Paulo, lhe imagino lendo as alucinações revolucionárias de algumas mulas esquerdistas que ainda se reproduzem em nossas instituições de ensino "superior". E para tornar mais agravante, o guevarismo adentra a teoria da educação, só faltando a transformação de nossas escolas em verdadeiras guerrilhas, com nossos alunos uniformizados pela incompetência e armados com a intolerância.

E pior ainda para o ge
nial Karl Marx. Transformado em "Che". Em comum os dois só tinham o fato de não tomarem banho (Guevara passou 6 meses sem tomar um único banho quando estava em terras bolivianas, e Marx era sempre alertado pela mãe que em cartas pedia ao filho que cuidasse de sua higiene). No mais são seres de planetas diferentes: Marx inclusive condena os ditos marxistas, e "Che" alinha-se mais a Lênin e a Stálin, todos marxistas e alienados. Marx é uma espécie de "Platão" dentro da teoria socialista, ou seja, ele é um paradigma. Todos os posteriores tomaram seus trabalhos como uma revisão ou mesmo interpretação das obras fundantes de Marx, e pior, sem a sua competência.

Abraços liberais a todos e boa leitura.....

O divertido Karl Marx,
os aborrecentes marxistas e a Universidade
[publicado em www.ghiraldelli.pro.br]
Em uma dessas dezenas de textos que contam coisas – para o bem e para o mal – sobre Chê Guevara, li algo que me fez rir bastante. O autor começou o texto assim: “Chê foi diferente de Marx, Engels e outros revolucionários, pois não escreveu tanto quanto eles, ele se preocupou com a revolução na prática (...)”. Essas coisas é que fazem com que eu ainda perca algum tempo com os que se dizem marxistas. Eles são simplórios e são divertidos.
Mas uma boa parte dos marxistas não são divertidos – dizem uns amigos. Sim ... acho que tenho de concordar.
Há entre os marxistas os “aborrecentes”. São os adolescentes do marxismo. Marx tinha grande senso de humor e odiava os marxistas. Quando começou a ver que alguns dos marxistas estavam já prontos para encapsular em fórmulas ridículas o que ele havia escrito, dessas que são a especialidade de professores universitários, ele reagiu dizendo que ele próprio não era e nunca havia sido marxista. E não podia ser mesmo. Pois já no tempo de Marx o marxista era um simplório, um chato, um cara sem humor.
Marx escreveu uma boa parte de seus textos em meio a brincadeiras, risadas, formulação de piadas e imaginação pervertida. Ele e Engels diferiam em muito dos alemães e ingleses de sua época. Não eram sisudos. Eram ... quase latinos. Tinham piadas para todos que atacavam – vivos ou mortos. E elaboravam com cuidado cada frase, de modo a criar aquele efeito que nos últimos anos só vi Richard Rorty fazer melhor. Esse “espírito de porco” da dupla foi testemunhado várias vezes por uma das filhas de Marx. Em especial o Manifesto Comunista e A Ideologia Alemã foram textos nascidos assim, sob um clima brincalhão. Esse foi o retrato pintado pelos que viveram com Marx. O retrato de dois escritores que, não raro, eram perseguidos pela polícia, mas que odiavam andar armados e não aconselhavam ninguém a portar armar. Só uma pessoa muito doente da cabeça pegaria um rifle ou um revolver e afirmaria estar fazendo aquilo por sugestão de Marx – direta, ou indireta, por meio de seus escritos.
Chê e muitos outros que não sabiam escrever bem, nem tinham dotes intelectuais, optaram pela revolução em forma não de guerra ou de guerrilhas, mas pelo que iria se transformar em simples assassinato. As pessoas que entram em uma revolução armada quando ela “estoura” possuem um tipo de responsabilidade. Mas as pessoas que planejam um ataque deveriam pensar antes, e muito, pois há outro tipo de responsabilidade envolvida nisso. Uma delas é a seguinte: em um dado momento acaba a aventura, o humor não tem mais sentido, e é necessário ver o que fazer com os “prisioneiros do novo regime”. Nem bem acabam de falar em “libertação” e já estão com um bocado de gente nas mãos, que vai receber grilhões em vez de ser libertada. E então há os ditos tribunais revolucionários, onde todo tipo de injustiça e crueldade é cometida no altar da Liberdade. A liberdade manchada, envergonhada, se retira. Nasce algo pior do que aquilo que havia antes: a ditadura. O fim das “liberdades burguesas” não dá espaço para a liberdade tout court, mas para o totalitarismo tout court.
Cuba após Chê se tornou um país sério demais; a Ilha perdeu o espírito de humor que havia nela própria e em Marx, e que deveria haver no marxismo, mas que Marx achava que jamais haveria. E Chê destruiu a economia de Cuba e então foi para a Bolívia.
O que teria acontecido a todos nós na América Latina se Chê tivesse encontrado mais gente igual a ele, que escrevia pouco, pensava menos, e queria “fazer a revolução”? Estaríamos hoje como a África. Ou seja, de Terceiro Mundo passaríamos para Quarto ou Quinto Mundo. Pois a África é o que é hoje, um poço de mazelas, por causa de anos de guerra e guerrilhas. Os imperialismos de Portugal, França e Inglaterra não haviam feito tão mal ao continente africano quanto os africanos fizeram a si mesmos após terem descoberto as ideologias e a política ocidental. E o marxismo esteve metido nisso. A América Latina se livrou disso. Infelizmente foi pelo caminho errado das ditaduras de direita, que também trouxeram sangue. Todavia, saímos delas – para a democracia. Creio que estamos melhor hoje, com quase todos os países da América Latina seguindo o caminho da democracia. É na democracia que podemos protestar e é nela que a cultura da América Latina tem sua melhor chance. Latinos gostam de rir, como Marx, por isso, Chê não teve sucesso com seu marxismo. Ele foi para um lado, os bolivianos, para outro, naqueles anos 60. Nós também. E até hoje, a maioria de nós, da América Latina, desaprova o marxismo, ainda que muitos entre nós tenhamos tido educação correta para entender que Marx é importante, inteligente e que é difícil não gostar dele. Marx era um filósofo de mão cheia.
Mas o marxismo tem outro problema, que também deixava Marx com as barbas de molho. Era a tal “ciência da história”. Marx nunca pensou que ele havia descoberto os caminhos da história do futuro. Ele entendia a filosofia e a teoria como Hegel, algo que vem depois, quando já se está no poente. Portanto, tanto para Hegel quanto para ele, a teoria não serve para guiar quem quer escrever a história. A teoria serve para o historiador poder “compreender” – “com-apreender” – o que ele escreveu após sua pesquisa. Ela é um tipo de filosofia. É um passo racionalizador após a pesquisa. É uma régua mole para ter onde encostar a pesquisa e dizer algo do tipo: “bom, é hora de mudar o que escrevi ou é hora de ver que aqui, neste ponto, o futuro está sendo construído bem diferente do retrato do passado?”
Marx não tinha nenhuma teoria para guiá-lo no trabalho de filósofo, historiador e investigador. Ele usava de sua teoria, formalizada no Prefácio do livro Introdução à crítica da economia política (1859), não para pesquisar, mas para estudar. Ele mesmo diz isso. Era um guia de estudos, não uma metodologia de pesquisa. Sua metodologia de pesquisa era completamente diferente da posta no prefácio de 1959 ou nas diretrizes gerais do Manifesto Comunista. Era a do pesquisador empirista que se locupletava em documentos de todo tipo, principalmente aqueles que contrariavam seu humor. Marx odiava quem não reconhecia a força de um documento que contraria nossa vontade e nosso humor. Por isso, muitas vezes, após escrever, ele mesmo dizia, prefaciando: o que escrevi é menos róseo do que muitos podem gostar. O Capital tem esse tipo de declaração. Não é uma declaração de júbilo. Marx a faz de modo triste, pois ele gostaria de ter escrito algo que fosse mais róseo, mas doce. Não conseguiu. Os dados a respeito da vida operária eram duros, tristes, e ele então falou das terras onde o carneiro devorava o homem e dos lugares onde a fábula de Agripa, a do homem dividido em pedaços do corpo, era uma realidade. Nessas horas, Marx riu bem menos. Em favor da boa pesquisa, os dados empíricos tinham de falar mais alto. E falaram.
O que vemos na história do marxismo, em especial o acadêmico, então impregnado pela política militante, é exatamente o oposto disso. A maioria dos estudantes e professores universitários que vejo trabalhar com o marxismo produzem textos em que a preocupação maior é mostrar que, apesar dos dados empíricos, o capitalismo vai mal e a revolução é necessária. Ou, então, que a história é a história da luta de classes. Ou então que a sociologia é aquela da metáfora da base e estrutura. Ou que as tais forças produtivas vão entrar “em contradição” com as relações de produção etc. Os documentos desse pessoal, quando o orientador é sério e não é burro, são exaustivos. Mas, ainda assim, a coisa não anda. Os textos finais não mostram aquilo que o autor gostaria de mostrar segundo sua ideologia, então, o autor escreve a cartilha do marxismo e desconsidera a documentação. Essa é a praxe de todos os grupos marxistas acadêmicos que conheço no Brasil – e olha que não conheci poucos, nesses últimos 32 ou 33 anos de trabalho como filósofo. Tornam-se desonestos por comungarem de uma metodologia de pesquisa que não é a de Marx. Marx estava muito mais para o empirismo preconizado por Bacon do que para o racionalismo do seu Prefácio de 1959. Por uma razão óbvia: seu prefácio e o Manifesto eram textos claramente filosóficos, não textos de metodologia para a pesquisa em história.
No campo educacional, então, nem se fale. Talvez seja a área acadêmica que mais tenha textos com o invólucro marxista que torna a pesquisa uma coisa burra, estúpida. Na história da educação – e a Unicamp parece ter se tornado paradigma disso, com sua filial na UFSCar – é que há o maior número de guevaristas. Os que gostariam de empunhar uma arma, já que dificilmente se saem bem lendo e escrevendo, ganharam os postos da história da educação e, não raro, da filosofia da educação. Espalharam fezes metodológicas. Criaram a metodologia da direita, igual a da Veja: se podemos mentir, uma vez que estamos de posse do rumo da história, para que se preocupar com a verdade? É incrível como acham, sem pudor algum, que o trabalho que fazem é mesmo o de propagar ideologias, sem qualquer preocupação séria com o material empírico que, não raro, desmente suas ideologias – ou desmentiria, se soubessem utilizá-lo.
Como editor, abro teses e mais teses, e mesmo as de autores já veteranos, e encontro menos Marx e mais Chê, ou seja, mais a apologia da revolução e menos a força do mundo empírico e a sabedoria da razão. Os dados do texto vão para um lado (isso quando o próprio autor não manipulou sorrateiramente os dados) enquanto que a interpretação teórica vai por outro. A esquizofrenia teórica é elogiada nas bancas de doutorado pelos marxistas que, enfim, “orientaram” o escrito da garota (ou garoto). E a garota que está ali para ser examinada, e que logo ocupará a cátedra (em concurso fajuto, como sempre) servirá de correia de transmissão para a seita do chefe do local – departamento ou setor de pós-graduação, lotado de medíocres hoje em dia. Ora, qual o valor de uma universidade assim, para o país? Nenhum.
Sim, esse tipo de escrito não poderia ser livro, e de fato não é, é tese. Mas, no Brasil, não podemos ficar só com livros que realmente ganham o mercado, temos de considerar também as teses. E eis aí nosso infortúnio. Temos de ler essa porcaria. Uma das coisas que fez com que eu abandonasse a universidade não foi só o autoritarismo e a desonestidade do meio universitário brasileiro; eu a deixei por não suportar a burrice reiterada em forma de marxismo. Foi para me livrar de ler teses que larguei a universidade brasileira. Era ruim demais. Era como ter de assistir Chê na Bolívia, agachado ali no mato, defecando, em vez de ver Marx de terno e gravata, sorrindo e escrevendo suas diatribes européias.
É graças a esse tipo de coisa que hoje, cada vez mais, há imensa dificuldade em conquistar jovens inteligentes para fazer pesquisa no campo marxista. Para esse campo só se dirigem os piores, os com falta de talento. Quando chegam até meu escritório teses de grupos marxistas, eu tento ver se aproveito. Mas é inútil. É a guevarização da universidade. Ela se tornou menos apta para o serviço que deveria ser seu destino. Podemos rir desses simplórios. Mas após algum tempo, eles se repetem demais na piada. E aí, realmente, são os “aborrecentes” – os adolescentes do marxismo. A direita fundamentalista não faz melhor, não fazia melhor. Mas ela está, na sua maior parte, fora da universidade, magoada, gritando. Dentro da universidade há a corporação de marxistas e seus amigos. E quando isso chega aos programas de pós-graduação, então, não há mais saída. Temos de assistir o emburrecimento dos locais que deveriam ser exatamente os desemburrecedores do país. Bem, vai ver que estou enganado. Chê não foi derrotado. Ele vive. E não só em camisetas.
Paulo Ghiraldelli Jr.
O Filósofo da Cidade de S.Paulo
www.ghiraldelli.pro.br

terça-feira, 9 de outubro de 2007

AS DROGAS MATAM - A HIPOCRISIA MATA MAIS


Amigos e amigas, aproveitando o gancho do filme “Tropa de Elite” e do livro “Elite da Tropa” quero aqui despertar um debate, uma reflexão, em torno de um assunto muito delicado, quase tabu: a descriminalização das drogas.

O filme e o livro abordam pelo viés policial (BOPE – Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro) a guerra vivida diariamente em metrópoles brasileiras como o Rio de Janeiro. Guerra causada pela venda e consumo de drogas, pela organização do tráfico. As metrópoles brasileiras tornaram-se locus dos mais violentos do mundo, onde diariamente um número acentuado de vidas humanas são perdidas (em dados oficiais a soma da violência urbana no Brasil supera, em número de óbitos, as contagens encontradas em conflitos como o que hoje se desenvolve no Iraque ocupado pelas tropas norte-americanas).

O quadro que hoje assistimos é caótico: polícia mal equipada e mal paga, com altos índices de corrupção, o estabelecimento de poderes paralelos ao Estado brasileiro nas mais diversas favelas e áreas periféricas do país, entrada descontrolada de armas, miséria e subdesenvolvimento que obrigam crianças e adolescentes a trabalharem para o crime, crise de valores que fazem com que crianças e adolescentes consumam mais e novas drogas (desde o menino de rua que fuma crack na calçada, passando pelo jovem de classe média que fuma maconha na universidade, até os mais ricos que cheiram cocaína ou tomam ecstasy no meio de baladas, festas have, orgias, etc).

Combater o tráfico na base da porrada pode agradar muitos, inclusive legitimando o uso da tortura como método policial. Muitos ao assistirem o capitão Nascimento (personagem de Wagner Moura em Tropa de Elite) espancando traficantes, moradores de favelas, estudantes e usuários de drogas, o aplaudem como que se o personagem assumisse entre nós a figura de “paladino da justiça”, como aquele que desfere a nossa vingança sobre este mundo do crime que hoje nos incomoda e nos escraviza (afinal não estamos mais livres nem em nossas casas, que diria nos sinais de trânsito, nas ruas). Capitão Nascimento vai se tornando, para setores da sociedade brasileira (como Luciano Huck indignado após recente assalto sofrido no bairro do Jardins em São Paulo quando assaltantes em uma moto levaram-lhe o relógio Rolex de ouro) um herói, quando na verdade ele funciona como uma espécie de “detetizador”, como alguém que entra em nossas casas e elimina todas as baratas, formigas e demais insetos indesejáveis.

Capitão Nascimento é um funcionário a serviço da limpeza, da limpeza urbana, da limpeza social – ele entra na favela, como manda a filosofia do BOPE, e sua missão é simples: matar! (leia-se: limpar).

Porém, a sociedade se enganou numa coisa – a limpeza, na base da violência, utilizando os vários “Capitão Nascimento” de nossas organizações e instituições de segurança, não se mostra suficiente para combater, no âmago, a questão do tráfico de drogas. E para este problema, em meu entendimento, só há um solução, coincidentemente liberal por excelência: a descriminalização.

Por que existe tráfico? Por que ele é tão poderoso em armas e capital financeiro? Por que ele tem poder de influência? A resposta para estas perguntas é uma só: porque o tráfico, a condição de ilegalidade, proporciona tudo isso, todo este poder. O exemplo maior retiramos dos Estados Unidos no início do século passado quando sua sociedade puritana instituiu a chamada “Lei Seca”, proibindo a venda e o consumo de álcool em território norte-americano, resultado: a máfia de Al Capone e de outros chefões do crime, organizado em torno do tráfico de bebidas alcoólicas, que logo se somava a outros crimes como o jogo e a exploração sobre a prostituição. Al Capone a máfia que se instalou na sociedade norte-americana são frutos do puritanismo besta que marca a cultura norte-americana.

Transpondo esta questão para a realidade brasileira a lógica é a mesma: proibir a venda e o consumo de cocaína, maconha, LSD, ecstasy, crack, etc, é ao mesmo tempo criar um mercado paralelo, proibitivo, portanto, mais lucrativo. Afinal, você pagará mais por algo que não encontra em qualquer esquina, assim já diz a lei simples da economia. Ao passo que quem lida com um mercado proibitivo, ilegal, terá que lutar contra as forças da legalidade, contra o Estado, e assim serão necessárias a compra de armas e outras estruturas de defesa. Logo, como atuam num mercado restrito e muito lucrativo conseguem adquirir suas armas com muita facilidade devido ao poder do dinheiro, e logo o mesmo poder do dinheiro comprará setores da sociedade, já que o dinheiro é instrumento eficaz quando o assunto é influência e corrupção. E assim uma simples proibição dá vida, dá energia, inicialmente a um mercado restrito e lucrativo, que em seguida se arma e se organiza para sobreviver enquanto ilegalidade (pois é mais lucrativa), e logo devido ao seu poderio econômico e até bélico está atuando na sociedade de forma a corrompê-la (a extorsão, a propina, a corrupção, a lavagem de dinheiro, o silêncio).

Como acabar com esta situação de caos, e com este ciclo de destruição, conflitos e mortes? Indo em direção ao âmago da questão: a proibição.

Com a descriminalização da droga não haverá mais tráfico. Todos poderão comprar, na farmácia mais próxima, em laboratórios, ou mesmo em padarias (cigarros de maconha, em maços como os ditos legais) a droga de sua preferência, alimentando o seu vício e assumindo, como indivíduo livre, a sua autodestruição (pois é fato que estas fazem mal a saúde e causam dependência físico/química/emocional como também o causam cigarros comuns, álcool, e alguns medicamentos). Com o mercado aberto os preços da droga cairão drasticamente, o que tirará delas a atração que hoje elas tem sobre os mais pobres e excluídos (ganhos rápidos e altos). Com a legalidade ninguém precisará comprar armas para defender o seu mercado lucrativo da ameaça do Estado e assim o tráfico de armas também se reduzirá. Menos armas, logo menos mortes.

Mas se é tão óbvio, por que não descriminalizam? Por dois fatores: um nosso, outro dos traficantes e de quem se beneficia do tráfico. O nosso diz respeito à hipocrisia e ao puritanismo da sociedade brasileira, que prefere ver seus filhos mortos nesta barbárie urbana do que assumir que faz uso e consome drogas. Consumir drogas faz mal? Sim, mas o corpo é uma posse individual, e temos o direito de destruí-lo se assim o entendermos, só não temos o direito de destruir o outro, os outros, e é isto o que o tráfico faz. Como coloca a teoria liberal mais clássica o Estado não tem o direito de me dizer o que eu devo consumir ou não consumir, o que eu devo pensar, como eu devo me vestir, me comportar. Quando nossos atos não atingem a liberdade dos outros, não destroem a coesão social, qualquer que seja a nossa ação ela é legítima.

Exemplo: quando eu chego em casa e tomo duas garrafas de uísque e caio embriagado na cama, isto é direito meu. Porém se eu vou ao supermercado, compro a bebida, tomo dirigindo e com meu veículo atropelo outras pessoas num ponto de ônibus ai sim estarei cometendo um delito, passível de punições e ai sim o Estado, como legítimo detentor da força e da violência, deve agir sobre a minha conduta.

Quando um jovem entra numa farmácia e compra 100 gramas de cocaína e em sua casa, numa festa, cheira o pó e tem alucinações, e nada mais que isto, como condená-lo a alguma coisa? Contudo se o mesmo após o consumo ou para continuar o consumo rouba um relógio, um tênis, este deve responder pelo seu crime (roubo) e não pelo fato de ser usuário de drogas. Com o uso individual da droga ele só causa danos a si mesmo, quando ele rouba para comprar drogas ele causa danos sociais, ai o Estado atua e lhe confere sua força e repressão de maneira legítima.

A outra razão é a mais simples: o traficante não quer perder a rentabilidade e o poderio conquistados pela existência deste mercado proibitivo, paralelo, e muito, muito lucrativo. Se amanhã todo mundo tem o produto que hoje eu vendo com certa exclusividade o negócio em certo se tornará menos atrativo, pois a concorrência e a legalidade abaixará os preços e diminuirá os meus lucros.

Portanto, amigos, amigas, cidadãos do Brasil, vos conclamo a um desafio: vamos legalizar as drogas, vamos dar um fim ao tráfico, e daí procuremos tratar nossos viciados como hoje os AA tratam de dependentes do álcool, com campanhas do Ministério da Saúde (oferecendo gratuitamente tratamentos de desintoxicação), e para aqueles que ainda assim, cientes dos perigos do consumo de drogas, insistem em usá-las não nos restará outra coisa senão respeitá-los e aceitá-los em suas decisões mesmo que estas lhe causem a morte brevemente, e estes só seriam responsabilizados ou mesmo punidos pelo Estado caso cometessem crimes comuns derivativos do uso e não condenados pelo uso pura e simplesmente. Chega de hipocrisia. Além das drogas, a hipocrisia mata!

Abraços liberais.

Tiago Menta.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Para nossos jovens todo escravo é negro!

Trabalhando como professor no ensino fundamental tenho me deparado com uma triste realidade: a percepção distorcida que nossos educandos possuem sobre a relação escravidão-etnia-raça negra.

Corrigindo provas de alguns alunos da sétima série do ensino fundamental é comum encontrar a seguinte resposta para as perguntas “quem eram os escravos na Roma antiga? Como eles se tornaram escravos?”: “os escravos eram os negros que vinham da África para Roma”. Confesso que fiquei assustado, não pelo erro (que faz parte da aprendizagem), mas pela herança cultural, maldita, que naturalizou nossos estudantes com a idéia de que todo escravo, independente de contextos históricos, é e sempre será negro e vindo do continente africano.

Criticamente, eximindo nossos jovens de qualquer culpa sobre esta visão distorcida da história, pensemos: por que isso acontece?

Tamanha distorção é fruto das atitudes de nossos negros que diante de qualquer debate social e econômico fazem questão de enfatizarem, sem os devidos cuidados conceituais, as heranças coloniais e escravistas que não só impediram a plena participação do negro na sociedade brasileira como também transformaram o continente africano num “continente excluído”.

É salutar que nossos alunos adquiram consciência social, espírito crítico e percebam que não é por acaso que grande parcela de nossos desempregados, marginais, população carcerária, sem-tetos, favelados, são indivíduos de traços negróides (termo antropológico). A nossa herança cultural, os nossos mais de trezentos anos de uso dos negros africanos como escravos, a nossa falsa e hipócrita abolição de 1888 (sem inserção social, sem projetos) que objetivava agradar aos ingleses que aqui desejavam a implantação do trabalho assalariado e a formação de um mercado consumidor crescente, são determinantes, condicionantes, para a situação de exclusão e miserabilidade de nossos irmãos e cidadãos negros do Brasil.

Como historiador, e antes educador, é meu dever corrigir distorções sobre o conhecimento histórico em sala de aula. O escravo negro trazido da África para as Américas é uma das manifestações de uma cruel organização e divisão do trabalho conceituada como “Escravismo”. O escravismo romano, trabalhado pelos alunos, não possui caráter étnico, mas econômico e militar. Os romanos escravizaram caucasianos como os macedônios, os gregos e os gauleses, mongolóides nas regiões mais orientais de seu Império, negróides como os cartagineses do norte da África e mestiços como os povos da península arábica.

Cabem aos negros brasileiros uma nova postura diante do trágico antepassado escravista: ao afirmarem a palavra “escravidão” substituam-na pelas expressões “Escravismo Colonial” ou mesmo “Escravismo Moderno” e certamente, em algumas décadas, nossos jovens saberão que o escravismo não é um fenômeno exclusivo dos negros africanos mas sim que é um artifício econômico dos mais sórdidos da história de toda a humanidade, e que ainda por cima possui uma variedade de aspectos determinados pelo contexto histórico em análise.

TIAGO DE CASTRO MENTA É BACHAREL E LICENCIADO EM HISTÓRIA PELO UNIBH.

ATUA COMO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

ENSAIO PRODUZIDO COMO MATERIAL DE APOIO AO PROJETO “CONSCIÊNCIA NEGRA” DA ESCOLA ESTADUAL DEPUTADO ÁLVARO SALLES

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Tiago Menta e Paulo Ghiraldelli debatem o velho Hobsbawm e o anacronismo de Veja

Hobsbawm está triste, e a Veja está maluca

Eu imaginava que Hobsbawm fosse quase um filósofo, que fosse um historiador que funcionasse como um pensador livre. No entanto, a partir da queda do Muro de Berlim, ele foi ficando amargo e triste. O mundo no qual ele sabia viver era o da Guerra Fria. Ele não consegue mais ter esperança num mundo em que os Estados Unidos possuem hegemonia. Hobsbawm parecia um pensador da esquerda democrática, mas, no fundo, não era. Não se adaptou bem ao mundo em que a democracia passou a ficar mais importante para as pessoas que o comunismo.
Na sua última entrevista ele diz, em relação ao Iraque, que “as idéias podem viajar, mas não em tanques”. A frase é bela, mas não é verdadeira e ele, com saudades de um mundo bipolarizado entre URSS e Estados Unidos, nem sempre endossou tal frase. Quando as idéias não eram as democráticas e viajaram em tanques soviéticos em direção à Hungria, em 1956, parece que Hobsbawm deixou de apoiar o Partido Comunista de seu país. Será? Pois agora, no entanto, justamente agora que vemos Bush isolado e os norte-americanos desejando forçar os republicanos a rever a posição na guerra do Iraque, Hobsbawn não deveria estar triste. Mas desde e o começo dos anos noventa ele está triste. Ele deveria, como Habermas, estar animado. Não está. É que comunistas, ao contrário de Marx, preferem antes interpretar o mundo que mudá-lo. O mundo mudou com o fim da URSS – e para melhor. Melhor para capitalistas e socialistas. Melhor para o povo do Leste, que saiu da opressão. Mas isso não é lucro para Hobsbawm.
Os comunistas já eram conservadores, os poucos que restaram, são reacionários. São pessoas que não gostam da Internet e odeiam as novidades libertárias. Tudo que vem no sentido de libertar o indivíduo, eles odeiam. Inventam mil e uma para dizer que se trata de falsa liberdade. Ficaram muito parecidos com a direita. Agora, mais ainda do que nos anos trinta.
Assim, a mensagem de Hobsbawm é a de desesperança. O que ele gostaria de ver é a vitória do marxismo, o que ele entende como sendo marxismo – que virou o comunismo de Lênin, ou seja, o marxismo de boteco, que termina feito por baionetas. Como Marx está mais nas prateleiras do que nas escrivaninhas das bibliotecas atuais, e Lênin já saiu das bibliotecas e foi para os sebos, ele reclama.
Todavia, se depender da revista Veja – é necessário avisar Hobsbawm – o marxismo (ao menos o de boteco) vai reviver. É que a direita jornalística no Brasil, capitaneada pela Veja e tendo na calda a turminha do “neocom” brasileiro e seus moneyboys, querem reacender um debate em relação ao qual ninguém mais está interessado. Os amestrados pelo “neocom” dão enorme importância a certos movimentos de ideologização, que viriam do PT ou do Governo, e que na prática não representam nada. Não tem força alguma. Muito menos serão aceitos pela juventude brasileira, que odeia regimes que primam pela falta de liberdade. Esse governo que está aí não é de esquerda nem de direita. Ele é o governo do Lula. Ou melhor, ele é o “Lula Lá”, Dizer que é governo, já é exagero. Há muita coisa que criticar nisso. Mas a direita jornalística força a ideologização. Ela vive no passado. Seu alimento e sua retórica são parecidos com os textos do pessoal da TFP (Tradição Família e Propriedade), que apareciam como matéria paga nos jornais, ao lado da matéria (também paga) do Brizola. Isso tudo não diz nada. São poucos os jovens que dão atenção ao debate ideologizado. Nem mesmo os jovens que estudam filosofia dão atenção para isso hoje em dia. Mas esses jornalistas não tem outro assunto.
A Veja está nessa. Será que pode sobreviver agindo assim?
Uma jornalista de lá de redação ligou para minha casa. Ela queria me convencer de que estava havendo uma ideologização nas escolas, que todo professor era marxista etc. Quando eu disse para ela que eu não via a educação brasileira por essa ótica, ela tentou de toda maneira que eu desse uma entrevista para ela, mas falando o que ela queria ouvir. Ou seja, ela queria o meu aval de filósofo, de pesquisador e escritor para a idéia de uma reportagem feita antes mesmo de qualquer investigação empírica. O mundo para ela estava dominado por comunistas. Todos eles dando aulas em escolas públicas e até particulares, ensinando história. E todas as crianças estavam se transformando em potenciais guerrilheiros. A jornalista era jovem, mas é como se nunca tivesse vivido na minha época, a época de agora, e sim na época dos meus pais – o tempo da Guerra Fria. Ela ficou mais de uma hora no telefone comigo. E eu tive de ser claro para ela: “a Veja está dominada por um pensamento de direita que, a meu ver, não dá lucro, e você, como trabalha nisso, está engolindo demais a conversa que rola aí na redação minha filha”.
Ou seja, falei por bem, pois quem fica assim como ela estava, perde a capacidade de trabalho. Ninguém que é reacionário arruma emprego. Os jornais e TVs podem conviver com pessoas da direita e da esquerda, mas querem os inteligentes. Ou seja, querem os que não são paranóicos ou maníacos políticos. Jornais com maníacos políticos perdem capacidade informativa e acabam fracassando do ponto de vista financeiro. Qualquer um que já trabalhou na imprensa sabe disso.
Essa minha conversa com a jornalista da Veja ocorreu no primeiro semestre deste ano (e pelo que andei vendo, sobre educação, ela não conseguiu seguir meu conselho). E agora vejo que a revista lançou uma matéria bem condizente com esse tipo de pensamento de direita que não se liberta da Guerra Fria. Ou seja, eles ressuscitaram Che Guevara para tentar enterrá-lo!
A matéria da Veja desta semana é a respeito de Guevara. A matéria é um Frankenstein. O texto é composto por escritos dos jornalistas da revista e de uma entrevista com o militar (cubano, radicado em Miami, ou seja, homem da CIA) que prendeu Chê na Bolívia, e que recebeu as instruções de executá-lo. É interessante notar que a entrevista é serena e clara, sem qualquer tentativa de desmentir tudo o que já foi publicado pelos norte-americanos, pela própria CIA e, enfim, pelos que estiveram de fato com os acontecimentos da hora da morte do guerrilheiro. Mas o texto dos jornalistas desconsidera isso. O texto dos jornalistas tenta mostrar que Chê era violento, que não tinha qualquer gesto humano, que era fedido e, pior, que era um covarde. É estranho. A CIA que tinha tudo para dizer isso, para acabar de fato, na época, com a fama criada em torno de Guevara, não agiu assim. Agora, a Veja, mesmo diante da entrevista que ela própria publica e que volta a reiterar o que sabíamos do relatório da CIA, fica esquizofrênica e cria uma farsa sobre o que ela chama de farsa, que seria a vida de Guevara na Bolívia.
A parte mais chata e doentia da reportagem da Veja é a que faz da frase de Guevara, uma frase normal e inteligente, algo como que um gesto de covardia. Ela diz que quando Chê foi preso, ele disse “não atirem, sou Chê Guevara, valho mais vivo do que morto”. Ora, isso é covardia? Ou é simplesmente o gesto de quem sabia muito bem o quanto valia? Chê Guevara não foi para a Bolívia para morrer. Ninguém quer tomar um tiro tonto. Ele apostou que poderia negociar sua vida e de seus companheiros. Errou. Os Estados Unidos o queriam vivo, mas o governo da Bolívia o queria morto. Por três vezes o sargento que foi encarregado de lhe dar os tiros fatais entrou na sua cela, e não cumpriu a ordem, e por três vezes Chê ficou de pé e lhe disse a mesma coisa: “Você estará matando um homem”. Tchê ficou pálido na hora que ficou sabendo que seria executado. Quem não ficaria? Mas quem estava lá e conta isso, não diz que ele chorou ou se acovardou, ele enfrentou se destino de um modo honrado. A Veja, ao lado de um depoimento que mostra isso, faz um texto que tenta mostrar que Chê era uma completa farsa.
Uma das filósofas mais brilhantes que passou pela USP, Olgária Matos, escreveu certa vez que Chê largou a vida em Cuba por preferir as trilhas das serras do que os corredores burocráticos. Ela, Olgária, tinha (ainda tem?) veneração por Chê. Não sou como ela. Não acredito nem um pouco que a frase atribuída a Chê, “Sejamos duros, mas sem perder a ternura”, tenha alguma utilidade para a democracia. Chê não acreditava na democracia. Eu não só acredito, mas gosto da democracia. Não viveria sob outro regime nunca mais. Todavia, minhas divergências com suas idéias (as de Olgária e as de Chê) não me colocam ao lado dos esquizofrênicos. A Veja fez uma entrevista que desmente seu próprio texto de reportagem. Com isso, perdeu seu alvo. E, enfim, gastou uma capa à toa. Em outras palavras, ela quis maquiar a entrevista e forçar a matéria. Mas o leitor que conhece o relatório da CIA, já publicado, percebe que a entrevista é que conta a verdade, e que o texto da Veja, ao lado da entrevista, é ideológico demais.
O que é intrigante nisso tudo é a preocupação da Veja em colocar o comunismo em evidência. Para quê? Todos sabemos que em uma pesquisa recente na América Latina, Fidel Castro e Chávez foram os presidentes avaliados negativamente. Só os presidentes que apostam na democracia tiveram boa avaliação. E Bush também se saiu mal. Então, se o comunismo está de fato fora de questão, e se Bush, com seu militarismo de direita, não ganharia eleição nem mesmo roubando (como fez da última vez), qual o interesse em fomentar um debate ideológico de quarenta anos atrás?
A Veja está trabalhando com o que nas mãos? Será que ela quer apenas contentar Hobsbawm, para que este enfrente a velhice achando que sua ideologia caduca ainda tem sobrevida? Sim, pois se uma revista como a Veja se preocupa em mentir tanto contra um personagem, o Chê, ele deveria ter alguma importância para além da histórica. Bem, então sugiro que o Fernando Henrique Cardoso, amigo pessoal do Hobsbawm, compre a revista e mande para ele, lá na Europa. Pois, fora disso, a Veja desta semana é inútil.
Talvez a Veja esteja é esquizofrênica mesmo. Muitos são os que vivem no mundo das ideologias e não conseguem mais sair dele, e enlouquecem. A revista parece perceber, na entrelinhas, que a matéria é meio maluca, injustificável e, então, tenta arrumar um gancho para justiçar sua presença na capa: ela diz que Chê é um mito que está tatuado no Maradona, no Mike Tayson e agora Gisele Bundchen saiu com um maiô com a foto dele (ou lingerie?). O que a Veja e a direita não compreendem? Eu digo!
A direita não entende que a estética possa ter valor em si mesma. Para ela, as pessoas usam o Chê nas camisetas por estarem afinadas com suas idéias. Mas isso não é verdade. A verdade é que a imagem do Chê, aquela característica, com a estrela na boina e olhando para o vazio, é apenas um recorte estético. É belo – nada além disso. Eu não gosto. Mas os jovens do mundo todo gostam. A beleza está no jogo de claro e escuro da imagem. Isso já foi usado por uma série de outros personagens que “fotografaram” bem. Jesus foi um deles. Ainda é. Chaplin também cumpre essa função. As pessoas da rua compram camisas e tatuam isso no corpo. Mas e daí? Ora, isso é isso e nada mais! Poderiam ter tatuado um dragão ou uma borboleta! Escolheram o Chê. A estética não precisa ir a reboque da política. Raramente vai.
Os nazistas pensavam a estética como cumprindo funções políticas – inexoravelmente. Por isso odiavam os artistas da Arte Moderna e por isso Hitler era um incentivador da chamada “arte nacional socialista”. Não somente por ser pintor frustrado. Mas por imaginar que a arte não tinha a ver com o deleite e com o mundo de cada um, mas tinha a ver, sim, com a propaganda, como um instrumento de lavagem cerebral. A direita projeta a si mesmo na esquerda e nos liberais, e então, cria a paranóia. Talvez seja este o problema da Veja. Ela ficou paranóica. É uma pena, pois até fazia um jornalismo investigativo que colaborava com o país. Mas este número do Guevara, se não foi para agradar o Hobsbawm, é um número maluco. A revista, se continuar assim, vai fechar.
Paulo Ghiraldelli Jr.
Veja nossa TV no www.filosofia.pro.br ou no http://tvfilosofia.blogspot.com

Prof Paulo, foi com estranheza que vi a edição desta semana da revista Veja nas bancas. Pensei "mas que despropósito! Nas últimas semanas estávamos muito mais compelidos a leitura de artigos sobre a crise infindável que assola a nossa vida política, e outras questões como a educação, o meio ambiente, etc" e de repente lá estava "Che" numa capa de Veja. Confesso que levei um certo susto.

Foi bom e proveitoso saber que o historiador anglo-egípcio Eric Hobsbawm voltou a dar as caras, mesmo que para mostrar o seu cansaço e o seu dessabor pelo novo mundo surgido pós-Socialismo Real. Hobsbawm ainda é referência para o estudo da história, especialmente quando tratamos do século passado e os litros de sangue derramados pelo mesmo. Não há como não ler as suas famosas "Eras": a das Revoluções, dos Impérios, dos Extremos. Porém, deve-se fazer a leitura de Hobsbawm como hoje se faz a leitura, por exemplo, de um Edward Thompson, com ressalvas (os devidos soros anti-ideológicos) e com a certeza de que o referido autor além de brilhante intelectual também apresenta engajamento (com o projeto socialista), característico na época vivida pela Guerra Fria, onde se intitulavam como "revolucionários".

A Guerra Fria obrigava o pretenso pensador, o intelectual, ao engajamento, ou melhor, ao posicionamento político. Hobsbawm não foge a regra e abraça o marximo-leninismo, como aqui abraçaram por exemplo Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes. Até Fernando Henrique Cardoso, pasmem (sob a devida orientação do mestre Florestan, trabalhando especificamente a escravidão no sul do país). Mas a Guerra Fria, como aponta o caro amigo Paulo, já acabou e foi o melhor para todos.

E aqui a revista Veja erra, e erra feio. Não há sentido em publicar, hoje nos idos de 2007, uma matéria tão ideologizante, tão anos 70, tão "Guerra Fria". Contudo, há um sentido nisso, podem ter certeza. A Veja quer, de alguma maneira, aflorar em nosso país, em nossas camadas médias e altas, escolarizadas e consumidoras de periódicos, o sentimento anti-esquerdista, contra tudo aquilo que marcara as décadas de 60 e 70, berço de partidos como o Partido dos Trabalhadores - síntese histórica de todas as contradições e conflitos vividos ao longos dos 21 anos de regime militar (apesar dos desvios, retrocessos e erros que este comete no poder).

Veja quando traz em sua capa uma certa farsa na figura de "Che", sem nenhum propósito mais concreto, jornalístico, ela mostra a sua face ideológica, retroagida, anacrônica. E com alvo definido: Lula e o PT. Atacar e desmistificar Guevara corresponde, mesmo no inconsciente, atacar Chávez, Morales, Fidel, até chegarmos ao seu compatriota tupiniquim Lula. Veja quer acirrar, em pleno século 21, uma mística e anacrônica "luta de classes". Veja quer ir além do jornalismo, Veja quer fazer política, e para isto se legitima pelo chamado "jornalismo investigativo", até que em alguns momentos, como o atual, num certo vazio factual, ela publica matérias de caráter ideológico - como ela queria com o amigo Paulo no tratante a educação nacional e o ensino de História que estaria doutrinando as nossas crianças da rede pública (no pretexto de que nossos professores são marxistas).


Sobre nossos professores, educadores, marxistas, Veja demonstra a mesma iniciativa ideologizante. Como professor que sou, na ativ
a, e graduado a pouco tempo, posso afirmar que muitos de meus professores estão como Eric Hobbawm - desacreditados, tristes, com a democracia brasileira e com a hegemonia norte-americana (que eles costumam abordar com o sofrível nome de estadunidenses), que eles ainda enxergam imperialismos onde se vive globalizações e mundializações, que eles saem correndo dos computadores e se recusam a pesquisar na internet. Bom estes professores, ideologizados, marxistas, leninistas, maoístas, luxemburguistas, e muitos, mas muitos mesmo gramscianos, não estão em nossas escolas públicas - mas em nossas universidades privadas. Eu presenciei isto. Contrários a eles, em menor número, estão historiadores ditos "culturalistas" - que trabalham o conhecimento histórico e seus derivados como o fizeram a escola francesa do século passado (Bloch, Febvre, Braudel, Le Goff) e alguns historiadores como o italiano Carlo Ginzburg e o norte-americano Dalton. E por fim, alguns muito poucos, muito poucos mesmo, são como eu - próximos do historicismo (aqui a relevância da Filosofia da História) e de escolas sociológicas, ambos de caráter germânico (Weber, Norbert Elias, Ranke, Dilthey, Karl Schorske).

Bom, os meus filtros ideológicos estão intactos. Leio Veja e gosto da revista, mas reconheço os seus erros e além, os seus excessos. Veja caminha para ser muito mais uma Revista que faz política do que uma revista que informa o seu leitor- e isso poderá lhe ser fatal (ou não se lembram dos ataques sofridos nas redações de jornais oposicionistas após o suicídio de Vargas?). Leio Diogo Mainardi, gosto de seu estilo "dedo-duro" apontando na cara do governo, mas reconheço os seus limites e lacunas intelectuais (só descer a lenha não adianta, é necessário mostrar os erros e propor soluções).

Não sou como Mainardi, não sou como Veja, mesmo quando esbravejo contra o PT e seu desgoverno. Pois ao contrário destes eu pelo menos procuro apontar caminhos para os problemas do país - políticas liberais: Estado enxuto, parlamentarismo, inserção na ordem global e abertura econômica, privatizações estratégicas e intensivas, reformas estruturais, política de educação, liberação da venda e consumo de drogas, controle de natalidade.


Abraços do colega historiador, e também satisfeito com a nova ordem pós 1989
Tiago Menta.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Presidente Lula: mais símbolo, menos governante

Amigos e amigas, não pude me conter com a foto enviada abaixo, pelo amigo agrônomo Paulo Getúlio (Lula antes e depois, ontem e hoje):Na primeira fotografia vemos o "velho Lula", sindicalista, típico dos anos 80 e que chegou a disputar a Presidência da República em 1989 utilizando-se dos argumentos raivosos da velha política de esquerda.

Em seguida o Lula contemporâneo, já Presidente da República reeleito, graças a campanha vitoriosa de 2002 marcada por uma nova postura política, menos esquerdista e mais conciliadora - o que a imprensa chamava de "lulinha paz e
amor".

Olhando as fotos, comparando épocas e contextos, e sabendo que os indíviduos tendem a crescer ao longo da vida com a experiência, podemos ter a convicção de que o Lula da primeira imagem não aponta para o Lula da imagem seguinte, são homens completamente diferentes. Melhor para o Brasil.

E assim quero aqui posicionar-me diante de nosso Presidente, valendo-me das inspiradoras, e não menos irônicas e pedagógicas imagens. Qual a minha visão sobre a figura do Presidente Lula?

Lula não é um bom Presidente. Nunca acreditei, e nem acreditarei no projeto social do Partido dos Trabalhadores, contudo jamais poderia imaginar o que já ocorreu e o que não ocorreu nestes anos de Lula no poder: corrupção sistêmica e desenvolvimento do país.

Lula não estava e ainda não está preparado para governar um país como o Brasil.
Lula funciona melhor como um ícone, como um simbolismo de um Brasil que nasce na miséria e na luta pela sobrevivência, que não se educa, e que vive numa sistemática e umbilical dependência do Estado (por isso o emparelhamento que hoje vivemos e o inchaço cada dia maior do setor público e das atribuições estatais).

Não posso falar do homem, até por não conhecê-lo. Falo do administrador, do homem público, do chefe de governo e de Estado. E ele só não peca, não comete tantos erros, como chefe de Estado - afinal sabe representar bem, apesar dos sérios problemas linguísticos, o nosso povo no exterior perante as outras nações e chefes de Estado (Lula consegue dialogar com Chávez e Bush, consegue ser político e meta-ideológico nos assuntos internacionais). Como administrador é incapaz, lembremos "nenhum governo pode abrir mão da CPMF", "eu não sei de nada", "nunca antes na história deste país ...." etc E aí estão escândalos somando-se a outros escândalos.

Lula governa no imobilismo, na letargia. Seu governo é um reflexo dos 8 anos do governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso e do PSDB - a impressão que se
dá é que de 1994 até hoje muito pouco ou nada mudou: as reformas essenciais não vieram e não virão (política, trabalhista, tributária), a justificativa economicista que ainda recai sobre o plano real, a taxa de juros conservadora, a busca por superávits, e o crescimento anual do país até hoje não atingiu e com muita dificuldade atingirá os 5%. A violência e a impunidade continuam. E as políticas assistencialistas estão aí, como o bolsa escola depois transformado em bolsa família (a grande chaga que impedirá o crescimento do país, já que o nosso bolo será eternamente pequeno mesmo que repartido).

Seu governo, hoje nos idos de 2007, a 3 anos de novas eleições, já acabou. Nada mais irá ocorrer em termos de mudanças profundas, de atitudes inovadoras que coloquem o país no caminho do progresso. Fato é que já se discute sua sucessão, inclusive com Ciro Gomes nas ruas, Aécio e Serra governando como que atuando num palco, e a base aliada (especialmente o PMDB do atual ministro do caos aéreo Nelson Jobim) cada vez mais tomando conta do governo em busca de um futuro apoio em 2010 - já que o PT não tem condições, nem quadros, para embarcar um sucessor para Lula (e assim permanecerá enquanto o partido continuar sob liderança paulista, na qual apontaria como a ala podre e fétida do partido - Marco Aurélio Garcia, José Dirceu, Ricardo Bezzoini, José Genuíno, Aloísio Mercadante, Marta Suplicy, etc).


Muito se tem debatido sobre o fato de que nosso Presidente não é um homem das "letras". Concordo em dizer que para governar o Brasil não é necessário ser um eminente intelectual, como mostra o governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Mas falta a Lula muitas coisas, diria essenciais a um governante: mais conhecimento. Lula tem dificuldade em se expressar, privilegia o improviso e não a organização racional do pensamento, fazendo-o falar pelos "cotovelos" e a cometer uma série de gafes. Lula é uma boca, apenas uma boca, que fala, que ecoa a fala "oficial", a voz do governo, mas não pensa, nada cria. E esta incapacidade para a criação lhe impede ser um bom governante, um bom administrador, não basta fazer política para ser um bom Presidente (foi isso que ele aprendeu nos anos como sindicalista, sempre negociar, nunca criar).

Lula é o mais pedagógico dos governantes que o Brasil já tivera, para ensinar ao povo brasileiro de que não basta "boas intenções" para governar o Brasil. De que o governo não precisa ser um reflexo do que somos, mas que ele deve ser melhor do que somos, afinal irá conduzir muito de nossas vidas. O brasileiro vai aprender que as esquerdas não funcionaram e que não sabem governar, e que PT e PSDB são duas faces de uma mesma moeda. O brasileiro, nas próximas eleições que ainda estarão por vir, vai começar a pedir por mais e por melhor, por algo diferente na
vida política: que reúna carisma e competência, credibilidade e vontade de fazer mudanças, que tenha coragem de retirar o país do comodismo e que nos faça trabalhar para construir uma nação mais próspera, pois só com prosperidade é possível não fazer justiça social, mas possibilitar justiça social de maneira espontânea e uniforme - dando uma morte rápida ao patrimonialismo, ao fisiologismo e ao nosso maior câncer: o assistencialismo.

PALAVRAS DE UM MESTRE

Na postagem anterior homenageei o prof norte-americano Milton Friedman, da chamada "escola de Chicago" de orientações liberais.

Na postagem de hoje irei aqui deixar alguns parágrafos da obra "O caminho da servidão" do prof Friedrich von Hayek,economista, filósofo e psicólogo austríaco, da chamada "escola de Viena".

Boa leitura e abraços liberais:

Se o socialismo substituiu o liberalismo como a doutrina da grande maioria dos progressistas, isso não significa apenas que as pessoas tenham esquecido as advertências dos grandes pensadores liberais sobre as conseqüências do coletivismo.

Quase não ocorre hoje que o socialismo era, de início, francamente autoritário. No que se referia à liberdade, os fundadores do socialismo não escondiam suas intenções. Eles consideravam a liberdade de pensamento a origem de todos os males da sociedade do século XIX, e o primeiro dos planejadores modernos, Saint-Simon, chegou a predizer que aqueles que não obedecessem às comissões de planejamento por ele propostas seriam "tratados como gado".

Tocqueville, mais do que ninguém, percebeu que a democracia, como instituição essencialmente individualista, entrava em contradição frontal com o socialismo. Segundo ele, "democracia e socialismo nada têm em comum exceto uma palavra: igualdade". Mas, advertia o próprio Tocqueville que "enquanto a democracia procura a igualdade na liberdade, o socialismo procura a igualdade na repressão e na servidão".

O advento do socialismo seria um salto do reino da necessidade para o reino da liberdade. É importante perceber a sutil alteração do sentido a que se submeteu a palavra liberdade para tornar plausível esse argumento. Para que o homem pudesse ser verdadeiramente livre, o "despotismo da necessidade material" deveria ser vencido, e atenuadas "as restrições decorrentes do sistema econômico". Liberdade nesse sentido não passa, é claro, de um sinônimo de poder ou riqueza. A reivindicação da nova liberdade não passava, assim, da velha reivindicação de uma distribuição eqüitativa da riqueza. Mas o novo rótulo forneceu aos socialistas mais uma palavra em comum com os liberais, e eles a exploraram ao máximo, a despeito do novo sentido dado àquela palavra.

A promessa de maior liberdade tornou-se uma das armas mais eficazes da propaganda socialista. Foi inquestionavelmente a promessa de maior liberdade que atraiu um número crescente de liberais para o socialismo e tornou-os incapazes de perceber o conflito existente entre os princípios do socialismo e os do liberalismo. O socialismo foi aceito pela maior parte da intelligentsia como o herdeiro aparente da tradição liberal. Nos últimos anos, porém, esse erro foi tornando-se claro. Foi-se tornando clara a extraordinária semelhança, em muitos aspectos, das condições de vida nos regimes fascista e comunista.

Enquanto para muitos que observaram de perto a transição do socialismo para o fascismo, a relação entre os dois sistemas ficou cada mais evidente, na Inglaterra a maioria ainda acredita que o socialismo e liberdade ainda podem ser conciliados.

O socialismo democrático, a grande utopia das últimas gerações, não só é irrealizável, mas o próprio esforço necessário para concretizá-lo gera algo tão inteiramente diverso que poucos dos que agora o desejam estariam dispostos a aceitar as suas conseqüências.

III. INDIVIDUALISMO E COLETIVISMO

Há um equívoco com relação ao conceito de socialismo, que pode significar os ideais de justiça social e maior igualdade, mas o fato é que significa também a abolição da iniciativa privada e da propriedade privada dos meios de produção, e a criação de um sistema de "economia planejada" no qual o empresário que trabalha visando ao lucro é substituído por um órgão central de planejamento. Os fins ou objetivos do socialismo devem ser avaliados juntamente com os meios usados na sua realização. Não podemos nos esquecer de que o socialismo é uma espécie de coletivismo e que, portanto, tudo o que se aplica ao coletivismo se aplica também ao socialismo.

Quase todos os pontos de divergência entre socialistas e liberais referem-se aos métodos comuns a todas as formas de coletivismo, e não aos fins específicos para os quais os socialistas desejam empregá-los.

O conceito de "planejamento" deve sua popularidade em grande parte ao fato de todos desejarmos, obviamente, resolver os problemas ordinários da forma mais racional e de, para tanto, precisarmos utilizar toda a capacidade de previsão possível. Nesse sentido, somos todos planejadores. Mas o que os planejadores exigem é um controle centralizado de toda a atividade econômica de acordo com um plano único, que estabeleça a maneira pela qual os recursos da sociedade sejam "conscientemente dirigidos" a fim de servir a determinados fins.

A doutrina liberal baseia-se na convicção de que a concorrência é a melhor maneira de decidir sobre o uso dos recursos escassos; e reconhece que para ser eficaz a concorrência requer a existência de uma estrutura legal cuidadosamente elaborada. Além disso, os liberais reconhecem que quando a concorrência falha, outros métodos de orientar as atividades econômicas se fazem necessários. Mas são contrários à substituição da concorrência de mercado por outros métodos menos eficazes de coordenação dos esforços individuais.

Não basta, para a eficácia do mercado, que a lei reconheça o princípio da propriedade privada e da liberdade de contrato; também é importante uma definição precisa do direito de propriedade.

Finalmente, há certos campos nos quais, sem dúvida, nenhuma disposição legal poderá criar a condição primeira da qual depende a eficácia do sistema: que o proprietário se beneficie de todos os serviços úteis prestados pela sua propriedade e sofra as conseqüências dos danos causados pelo seu uso. Quando isso não se dá, faz-se necessária a ação das autoridades para a correção dos desvios oriundos de externalidades positivas e negativas.

A criação de uma estrutura institucional adequada ao funcionamento benéfico da concorrência estava longe de ser completada quando, em toda a parte, os Estados começaram a substituí-la por um princípio diferente e inconciliável. Já não se tratava de fazer funcionar a concorrência e de complementar-lhe a ação, mas de substituí-la por completo. O que une os socialistas de esquerda e direita é essa hostilidade à concorrência e o desejo de substituí-la por uma economia dirigida.

A luta universal contra a concorrência promete gerar, antes de tudo, algo ainda pior: uma situação que não pode satisfazer nem planejadores nem liberais, uma espécie de organização sindicalista ou "corporativista" na qual a concorrência é mais ou menos suprimida, mas o planejamento fica nas mãos de monopólios independentes, controlados por setores específicos da economia.

Muitos ainda acreditam que é possível encontrar um meio-termo entre concorrência e dirigismo central. Isso não é viável, pois os dois métodos são fracos e ineficientes quando incompletos. O planejamento e a concorrência só podem ser combinados quando se planeja visando concorrência, nunca contra ela.