quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Prof. Ghiraldelli: Lula quer desvendar o truque

O texto abaixo me foi enviado pelo professor Paulo Ghiraldelli Junior, discutindo a relação, ainda não resolvida, entre o Presidente Lula e a sua condição de homem simples, não-intelectualizado.
Lula que, segundo o professor, sofre de um auto-preconceito de classe, ressentido que é pelas derrotas eleitorais para Fernando Collor, o "rico", e Fernando Henrique Cardoso, o "culto". E assim Lula ataca as elites deste país, a intelectualidade, que se afasta cada dia mais de seu governo e de seu partido, ambos perdidos em retóricas pobres e arcaicas do velho populismo.
Lula achou que bastava tornar-se Presidente, recebendo seu primeiro e talvez único diploma, para que chegasse a uma condição iluminada de conhecimento e entendimento das coisas e do mundo, ledo engano. Lula se mostra instintivo em seu discurso, porque mesmo presidente ainda lhe falta, e ele sabe e se incomoda, o conhecimento acadêmico, adquirido nos bancos de escolas e não na vida prática de sindicalista e trabalhador no qual ele sempre se apoiou.

Bom, boa leitura e abraços liberais.


Lula quer desvendar o truque
Paulo Ghiraldelli Jr.

Quando Francisco Weffort e, depois, José Dirceu tinham o controle do PT (e com isso não comparo um com o outro), a linha social-democrata do partido apresentava um bom discurso. Alguém mais à direita ou à esquerda podia não concordar, mas não diria que o discurso era ruim. Lula, atualmente, está praticamente sozinho. Perdeu seu partido, e o partido se perdeu. Quem escreve seus discursos ou sugere suas falas não acerta de modo algum. E quando o presidente fala de improviso, a linha populista fica acentuada, e já não tem o tom atrativo que conseguiu no passado. O populismo, talvez graças ao próprio PT, não é mais fonte retórica de sustentação política.


Lula se repete de gafes em gafes, de erros em erros, e vai cada dia mais se distanciando dos setores escolarizados, herdando o curral eleitoral do Norte e do Nordeste, que foi do antigo PFL. Para manter os intelectuais ao seu lado, precisa colocá-los em cargos de confiança. Mas não há tanto espaço assim no Conselho Nacional de Educação e similares.

O último exemplo de má retórica do presidente foi para a TV dia 16 deste mês. Lula fez duas comparações sem pés nem cabeça: Disse que os que o vaiavam eram muito jovens, como se isso fosse um defeito (era uma virtude, para o PT, ter jovens, lembram?), e que não tinham “consciência política”, dado que apareciam ali fantasiados de palhaço, quando “palhaço é uma figura alegre, suave” (e não figura de protesto); disse que os que criticam a bolsa minguada para os pobres não criticam a bolsa (que seria gorda) para um pesquisador ir para os Estados Unidos.

Quanto à crítica aos “jovens”, nem há muito que comentar; parece que o presidente começou uma frase (que seria sobre a suposta consciência política dos que vaiavam), perdeu o fio da meada e concluiu com uma não-conclusão a respeito do palhaço. Lula já não consegue mais encadear frases com alguma conseqüência lógica.

Agora, sobre a comparação entre bolsa para pobres e bolsa para doutores, há mais o que dizer. O problema não é ele querer comparar políticas distintas. O problemático na frase do presidente é que ela revela novamente que ele não consegue superar uma mágoa que, há mais de dez anos, imaginei que havia superado. Trata-se da mágoa de um dia ter sido chamado por setores conservadores de “analfabeto” e “despreparado”. Lula parece não ter superado, até hoje, a derrota para Collor - o rico - e para Fernando Henrique - o culto. Toda vez que é atacado, ele responde com a “mágoa de classe”. Diz que defende os pobres, mas não pelo fato de que os ricos não gostariam que ele defendesse os pobres, e sim pelo fato de que os altamente escolarizados são desleixados quando se trata de incentivar políticas de proteção dos pobres (se é que tal bolsa para pobres tem alguma eficácia).

Quando Lula pegou o diploma de presidente nas mãos, lembrou que era seu primeiro diploma. Foi uma fala simbólica. Na época, fiquei feliz. E tenho certeza que FHC, que se declarou feliz no episódio, foi sincero. O que Lula, todavia, falou naquele dia tinha um componente subjetivo perverso, que não quisemos ouvir, embevecidos que estávamos com o fato de nossa democracia estar funcionando exemplarmente (chegamos até a comparar nossa perfeição diante da imperfeição americana - Gore havia sido roubado, lembram?). O componente perverso da fala de Lula, na época, agora reaparece: Lula não se conforma com o fato de, mesmo sendo presidente, não entender o que ocorre à sua volta. Ou seja, ele não se conforma por não ter ficado culto e inteligente, mesmo diplomado. É como se ele dissesse para si mesmo: “Eles recebem um canudo e ficam inteligentes e cultos, e eu recebi um canudo, um diploma, e sigo tendo dificuldades diante de um texto mais complexo.” Lula acredita que haja um truque, uma mágica nisso tudo.

O deputado comunista italiano Antonio Gramsci é que falou sobre tal truque; sobre como os mais pobres e, às vezes, menos aptos imaginam haver um truque no aprendizado dos mais aptos e, às vezes, mais ricos. Ser culto, atacar um texto e entendê-lo, e então melhorar a compreensão do que se passa no mundo, depende de um tirocínio que é adquirido com uma disciplina especial, algo que, nos nossos tempos, depende da boa escola e, antes, de uma boa situação pré-escolar. Não existe atalho real para o saber, disse Aristóteles a Alexandre. Os que não passam por tal tirocínio imaginam que os cultos escondam um truque que eles desconhecem. Na procura desesperada pelo “truque”, para desvendar a “mágica”, acabam concluindo que é o recebimento do diploma, talvez, que confira sabedoria.

Lula se parece com a figura citada por Gramsci. O garoto pobre entra na escola e vê o garoto de classe média, na mesma sala, ir melhor do que ele, e acredita que exista um truque. Não sabe que o garoto de classe média está já treinado, desde o nascimento, a acomodar-se numa escrivaninha e dispor todo o seu corpo para o trabalho intelectual. O truque é simplesmente este: as habilidades físicas para ser um intelectual são conquistadas antes mesmo de se entrar na escola, e transformadas numa segunda natureza, no garoto de classe média.

Lula faz parte dos que procuram o truque, e imagina realmente que exista algo de falacioso no procedimento que torna alguém um intelectual. Para ele, basta dar um dinheirinho a um pobre e este irá comer melhor e, então, uma vez na escola, espera um pouco e pega o diploma, que lhe dará sabedoria. Lula não percebe que há saberes que não se aprendem “de oitiva”, que não dependem de vivência sindical e política. Ele não percebe que mesmo a política, hoje, é matéria de estudo. Lula continua brizolado, isto é, faz política segundo sua intuição, nem sempre aprimorada. Ou pior, ficou brizolado após 1989 de uma maneira muito mais acentuada.

Paulo Ghiraldelli Jr. é filósofo. Site: www.ghiraldelli.pro.br
PAULO GHIRADELLI JR., doutor e mestre em filosofia pela USP; doutor e mestre em filosofia da educação pela PUC-SP, livre docente e titular pela UNESP, pós-doutor em medicina social pela UERJ. Diretor do Centro de Estudos em Filosofia Americana – www.pragmatismo.com . Editor da Contemporary Pragmatism de New York. Site pessoal: www.ghiraldelli.pro.br Editor do Portal Brasileiro da Filosofia: www.filosofia.pro.br

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Rui Barbosa vive!


SINTO VERGONHA DE MIM
Rui Barbosa


Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade"
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre "contestar",
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.


Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!

"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem- se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto"

(Rui Barbosa deixou de ser senador em 1892 e faleceu em 1923.)

Brasil e seus contrastes: analfabetos conservadores e elites democráticas


Amigos e amigas, na última semana foi lançado pela editora Record o polêmico livro “A Cabeça do Brasileiro”, desenvolvido pelo sociólogo Alberto Carlos Almeida e que faz um raio-x do que pensa o brasileiro medianamente, através de um levantamento estatístico realizado pela Pesquisa Social Brasileira.

O debate gira em torno da metodologia do estudo que classificou o pensamento de nossa população como “cívico liberal” e “conservador”, e fazendo um paralelo entre estas posturas ideológicas e o nível de escolaridade do brasileiro, nos deixando uma lição óbvia: devemos escolarizar maçiçamente o povo brasileiro se quisermos vislumbrar um Brasil moderno e democrático.

A pesquisa retrata o que já sabia, de certa maneira, como educador: o brasileiro com curso superior completo tende a ter, medianamente, uma posição cívico liberal, mais democrática, menos preconceituosa, menos agressiva e mais independente – sem esperar soluções pelas mãos de um governo, de uma liderança carismática ou da própria Divindade. E o contrário, de que os analfabetos, ou as pessoas de mais baixa escolaridade (como os analfabetos funcionais e a grande maioria de nossas crianças condenadas à repetência, a progressão continuada que premia o não-saber, a evasão escolar e uma série de mazelas encontradas em nosso ensino público) possuem uma atitude conservadora – mais agressiva e intolerante, moralista, preconceituosa, mais propensa a uma ação que corrompe e se deixa corromper, e dependentes de governos, líderes religiosos ou políticos, ávidos de religiosidade (aceitando conceitos como o destino, a ação e intervenção divinas).

Ou seja, creio que o título deste livro deveria se mudar para “A Falta de Cabeça do Brasileiro”. E é bom sobre dois aspectos: primeiro porque levanta o debate sobre o óbvio de que não construiremos um país mais progressista e democrático sem promovermos a educação de qualidade em massa, universalizando uma educação básica de respeito e em seguida o curso superior. Segundo porque é uma obra anti-rousseauniana, anti-lulista, mostrando que o brasileiro não-escolarizado é sim um sujeito que legitima o dito “jeitinho”, que é conservador e moralista, e que se permitirmos que esta situação de não-escolarização continue só teremos a perder. E as bolsas que escravizam, ditas sociais, só premiam a miséria e não promovem a ascensão social, a qualificação profissional e o emprego, que sim atuam como agentes transformadores da vida social.

Ingênuo é aquele que pensa que investindo na miséria nós a combatemos, pelo contrário, esta só tende a se perpetuar mesmo que de maneira menos latente. Temos que investir em quem pode investir no país, no nosso povo. Temos que diminuir a carga tributária pesadíssima sobre nosso empresariado, temos que qualificar o nosso povo através da escola de qualidade, temos que dar crédito aos pequenos e médios empresários (que são os que mais empregam no país), temos enfim que plantar para um dia colher. O que o lulismo faz, que se reflete no pensamento deste povo sem escolaridade, é tampar o sol com a peneira. É politicagem, e não projeto de Brasil. E a falta de projeto para o país não é exclusividade petista não, o governo anterior cometera o mesmo erro estrutural.

O estudo faz a necessária desmistificação do pobre brasileiro, dessa gente humilde como diz uma velha canção popular. Não quero aqui condenar os nossos pobres e miseráveis, afinal eles não são culpados pelo que pensam e tem como valores. A miséria é a culpada, a miséria que impede a escolarização e que tira a criança e o adolescente da escola. A miséria que impede os meninos e meninas de estudarem por falta de nutrientes, pois a fome ataca o organismo e o pensamento (tornado deficiente pela pobre dieta diária). A miséria que é amenizada, mas não é eliminada, e nem será (pois sem os miseráveis esta esquerda vagabunda não consegue se eleger para nada) com o assistencialismo e o clientelismo vigentes e históricos.

E nem o contrário, dizer que a elite é a nata deste país, de que são melhores que a maioria. Podemos assistir filhos da classe média, de ótima escolarização, espancando empregadas domésticas na rua, queimando mendigos e agredindo indígenas ou homossexuais, porém a estatística e uma análise apurada mostram que isto são fatos de exceção num universo econômico e social mais privilegiado. São como anomias. Enquanto que estes casos, de brutalidade e intolerância, é mais perceptível em nossas periferias e demais bolsões de miséria – onde se concentram os nossos brasileiros e brasileiras não-escolarizados.

Isto só reforça uma idéia que sempre me ocorrera: de que analfabetos deveriam perder o direito de voto. Que para tirar título de eleitor deveria o cidadão apresentar, além do CPF e CIC, o diploma da educação básica completa. Ou seja, para escolher o rumo do país você deve ser mais do que brasileiro, você deve ter consciência e visão das coisas. E isto quem traz, efetivamente, é o conhecimento. Isto valorizaria o ensino e a escolarização de maneira impressionante. Não basta incluir, fazer balaio de gatos, se o conjunto não se mostra preparado para tomar decisões. Ou você, leitor e leitora, colocaria uma responsabilidade muito grande nas mãos de indivíduos que não sabem ler nem escrever o próprio nome, ou que lêem uma informação, seja ela qual for, e não a compreende? Quiçá deixar nas mãos destas pessoas o futuro da nação.

E assim fica a moral disso tudo: escola já! Governo não deve dar dinheiro para seus filhos da miséria, e sim condições para sair dela e cuidar de seus caminhos, e isto só é possível pela escolarização em massa e de qualidade.

Abraços liberais, em pró da escola brasileira e do Brasil.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Arnaldo Jabor e a causa das Vaias

AMIGOS E AMIGAS, NA POSTAGEM DE HOJE VOU AQUI REPRODUZIR O BOLETIM DO CRONISTA E CINEASTA ARNALDO JABOR DO DIA 6 DE AGOSTO DE 2007, POSTADO NA RÁDIO CBN.


QUERO ANTES AFIRMAR QUE FAÇAM MINHAS AS PALAVRAS DE JABOR, FORMADOR DE OPINIÃO COM RARA CLARIVIDÊNCIA E DE SENTIMENTOS PROGRESSISTAS, LIBERAIS E DEMOCRÁTICOS. ARNALDO JABOR QUE COMO HOMEM INTELIGENTE QUE É SAIU DA LETARGIA IDEOLÓGICA DO COMUNISMO REINANTE EM NOSSO PAÍS NAS DÉCADAS DE 60 E 70 DENTRO DE NOSSA INTELECTUALIDADE, PARA HOJE APRESENTAR-SE DEVIDAMENTE AMADURECIDO, ABRAÇANDO A DEMOCRACIA QUE NUNCA FEZ PARTE DO VOCABULÁRIO VERMELHO QUE SEMPRE A TAXOU COMO MECANISMO DE DOMINAÇÃO BURGUESA.


COMO AFIRMARÁ JABOR EM SEU TEXTO AS CAUSAS DAS VAIAS INSESSANTES E CRESCENTES SOBRE LULA NÃO SERÃO ENCONTRADAS ENTRE OS MILHARES DE MISERÁVEIS DE NOSSO PAÍS - VISTO A CONDIÇÃO ALIENANTE IMPOSTA PELO ASSISTENCIALISMO PETISTA. A CRÍTICA, AS VAIAS, ESTÃO AQUI EM NOSSAS GARGANTAS, NÓS, A QUEM O GOVERNO QUER CLASSIFICAR COMO "ELITES", NÃO NO SENTIDO REAL DO TERMO POIS AFINAL SOMOS ELITE SIM SE PENSARMOS NO UNIVERSO DE MISERABILIDADE CRÍTICO-INTELECTUAL DE NOSSO POVO QUE SAI DA ESCOLA PÚBLICA SEM SABER LER E ESCREVER, DE COMPREENDER O QUE LÊ, INCAPAZ DE SE EXPRESSAR CRITICAMENTE.


LULA SE BENEFICIA COM A FALTA DE EDUCAÇÃO DE NOSSO POVO, DE NOSSOS MILHÕES DE ANALFABETOS FUNCIONAIS QUE SERVEM COMO CURRAL POLÍTICO NECESSÁRIO A MANUTENÇÃO DESTA STATUS QUO CAÓTICO E MENTIROSO. NUNCA ANTES NESTE PAÍS SE APROPRIARAM TANTO DO ESTADO BRASILEIRO, NUNCA ANTES NESTE PAÍS SE VIU UM INCHAÇO PÚBLICO TÃO GRANDE TRANSFORMANDO O ELEFANTE BRANCO NACIONAL NUM DINOSSAURO VORAZ E INEFICIENTE.


POR REFORMAS BÁSICAS, POR PRIVATIZAÇÕES EM SETORES ESTRATÉGICOS (O POVO NÃO APRENDEU QUE A CONCORRÊNCIA SÓ O BENEFICIA, TRAZENDO SERVIÇOS DE QUALIDADE SEMPRE), POR DESAPROPRIAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO, POR ENXUGAMENTO DOS GASTOS PÚBLICOS (EXCETO EDUCAÇÃO E SAÚDE), PELA FORMAÇÃO DE MOVIMENTOS DE CONTESTAÇÃO E REPULSA A TRAGÉGIA ADMINISTRATIVA CHAMADA GOVERNO LULA, PELA REFUNDAÇÃO DO PARTIDO DOS TRABALHADORES (SERÃO ESTES CAPAZES DE ALGUMA AUTO-CRÍTICA), PELA MOBILIZAÇÃO DE UMA FRENTE DE OPOSIÇÃO FORTE E DE PERSONALIDADE POLÍTICA (SEM OS EXCESSOS DO ESQUERDISMO INFANTIL DE PSOL E SUBJASCÊNCIAS), POR UM BRASIL LIBERAL, PROGRESSISTA E DEMOCRÁTICO - E QUE ISOLE POLITICAMENTE GOVERNOS AUTORITÁRIOS LATINO-AMERICANOS, ESPECIALMENTE A NUVEM SUJA DO CHAVISMO, VISTO A EMINENTE MORTE DO CASTRISMO E A INEVITÁVEL REABERTURA POLÍTICO-ECONÔMICA CUBANA AINDA POR VIR.


ABRAÇOS E BOA LEITURA!


Amigos ouvintes,
É simplesmente vergonhoso, quase criminoso, ouvir o governo dizer que as críticas e vaias que tem sido lançadas ao Lula e seu executivo são feitas pelas “elites”, por gente que não representa as forças vivas da nação como dizem os comunas a mais de cem anos.
As vaias tem sido dadas pela parcela da população que tem capacidade crítica mínima para avaliar o desempenho desse governo, pelos que lêem jornais, pelos que tiveram a sorte de poder estudar e podem constatar a tragédia da pior administração pública da história brasileira. Ainda por cima no momento mais privilegiado da economia mundial quando o Brasil poderia estar dando um show de bola, no entanto ta batendo pino.
Lula mantém sua popularidade entre as pessoas que mergulhadas na ignorância ou cooptadas pelos censinhos ou cinqüentinhas que ficam em suas mãos como bolsas apóiam-no sem saber porquê estão fazendo.
Lula se refugia na desinformação de grande parte do nosso pobre povo para enganá-lo com seu progresso falso, que não existe, que poderia estar havendo se houvesse um mínimo de competência administrativa e um mínimo de grandeza.
Os dados estão por ai provando, por exemplo que nosso país só tem 11% de suas estradas asfaltadas, sabem por que? Porque o governo se recusa a abrir concessões para a iniciativa privada, que meia dúzia de malucos comunistas acham que não se pode privatizar nada.
A espantosa incompetência desse governo é a causa das vaias por quem tem cultura mínima para perceber esta incompetência. E as causas da incompetência são: ambigüidade ideológica de sindicalistas e ex-comunas no poder que odeiam administrar pois só pensam numa imaginária revolução que jamais aconteceu e nem acontecerá, como é que um sindicalista pode administrar um banco se ele é contra haver bancos? Outra causa é o tumor inoperável na cabeça dos homens do governo e de muito intelectual idiota que diz que o Estado tem que ser o centro de tudo hoje quando essa idéia está morta no mundo inteiro, inclusive na China e no Vietnã. O Estado super-poderoso é que gera essa imensa corrupção que a gente vê, e o Estado é pilhado de dentro e de fora. Outra causa, da crise, e das vaias, é a ocupação do Estado já em 40% dos cargos para membros do PT ou ligados a ele, 40%! (em pesquisa recente realizada).
O Estado é visto como uma colméia onde os marimbondos vão se aninhar. Os ganhos do PT, do partido onde vive esta gente que vive do governo empregada, aumentou 500%, já que 10% de seu salário vai para o partido.
Outra causa, da crise e das vaias, é a recusa do governo em fazer reformas essenciais: da Previdência, do Trabalho, Política, da estrutura Fiscal. A recusa de enxugar gastos que permitiria investimentos e estimulo ao desenvolvimento. Em vês de desfazer, reformar, o governo criou um desenvolvimentismo falso, de fachada, um marketing, um PAC que é feito de marketing e que nunca sairá do papel. Além disso nomeia para cargos técnicos políticos corruptos, ineptos: para usinas hidrelétricas especialistas em botânica, para aviação agentes de turismo bailarinos, isso tudo sem falar na preguiça e na confusão mental dos membros do executivo. Essa é a razão das vaias, que o governo acha que é “das elites” ameaçando convocar os pobres que não estudaram para defendê-lo e para defender uma mentira que os incubriria mais ainda. Que tristeza ver o país patinar no meio do maior progresso internacional dos últimos 70 anos da economia mundial.

ARNALDO JABOR – RÁDIO CBN, DIA 6 DE AGOSTO DE 2007.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Eu já cansei à muito tempo! E você?

Amigos e amigas, seguem abaixo algumas referências ao dito movimento "CANSEI", organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo, e que fará, no próximo dia 17 de agosto, uma manifestação na forma de 1 minuto de silêncio em homenagem as vítimas do acidente aéreo da TAM.

Do site da OAB-SP - http://www.oabsp.org.br/destaque_principal/durso-classifica-critica-a-movimento-como-antidemocraticas :

O presidente da OAB SP, Luiz Flávio Borges D´Urso, em entrevista coletiva concedida nesta quinta-feira (2/8), na sede da OAB SP, classificou as críticas dos opositores ao Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros (Cansei) como “ desinformação “ e “falta de convivência com a democracia”.

Durante a entrevista, D´Urso rebateu as críticas de que o Movimento teria um viés "golpista". " Quando nós (OAB SP) defendemos os direitos dos presos, nós fomos taxados de esquerda. Quando defendemos os direitos humanos, também. Quando lutamos contra a ditadura militar, a OAB era oportunista e golpista. Quando propusemos o impeachment de Pita, também contrariamos interesses. Quando a OAB nacional marchou pelo impeachment do Collor, também encontrou resistências. Assim, a cada momento somos taxados de alguma coisa . Mas, reitero, tudo fruto de desinformação “, ressaltou.

D´Urso também comunicou que está pedindo uma audiência com o presidente da República , Luiz Inácio Lula da Silva, para explicar que este Movimento não tem qualquer viés de golpe para tentar desestabilizar as instituições. “Nós sempre defendemos a solidez das instituições porque elas representam os pilares da democracia que tanto defendemos. Na oportunidade, também vamos para levar às mãos do presidente uma pauta de contribuições da sociedade para superar essas dificuldades, que não surgiram agora, mas que estão cansando a população. Para, enfim, termos o Brasil dos nossos sonhos”.

Segundo D´Urso, muitas temáticas desenvolvidas pelo Movimento já são bandeiras históricas da OAB SP, como por exemplo a segurança pública, carga tributária, corrupção, abandono e delinquência juvenil, ética na política, entre outras. “A OAB SP , ao longo de sua história defendeu muitas bandeiras e muitas delas se confundem com esse movimento. E nós vamos continuar buscando, estimulando a sociedade a participar. Se temos que criticar ou elogiar alguma coisa, o fazemos com isenção. O Movimento está procurando mecanismos para efetivamente manter esse diálogo, que a OAB sempre teve, com o Poder Público, seja na esfera federal, estadual ou municipal.”, disse.

De acordo o presidente da OAB SP, desde o inínico, o Movimento tem no ministro da Justiça, Tarso Genro, um interlocutor no governo “. Assim sendo, é absolutamente improcedente qualquer tentativa de taxar esse movimento como um movimento de fora Lula, um movimento golpista. Essas vozes que se levantam é porque, talvez, não estejam acostumadas com o processo democrático, porque o processo democrático é de diálogo, da convivência com os antagonismos. Aliás, muito próprio da advocacia, onde passamos, dentro de nossa atividade profissional, a conviver e a respeitar as adversidades e, nesse respeito, contribuir para as soluções dos problemas que se apresentam para o Estado e para o país”, ponderou.

D´Urso enfatizou, ainda, que o Movimento não tem coloração político-partidária. “ É um movimento de cidadania, que diz ao cidadão: venha participar, se você cansou de não fazer nada, faça. Você também tem a sua parte a fazer pelo país. Você também pode trazer uma idéia criativa e uma solução e vamos juntos trabalhar nesse sentido, governo e sociedade, para superar as dificuldades enfrentadas pelo Brasil”, explicou.

D´Urso também rebateu que o movimento é da elite. “ Se temos pessoas que tem poder aquisitivo bom no movimento, também temos pessoas pobres no movimento. Temos assalariados que são simpáticos e querem aderir ao movimento. Se temos empresários, temos trabalhadores, estudantes, médicos, engenheiros, comerciantes, temos o extrato da sociedade representado nesse movimento. Agora,individualmente, nós queremos que o cidadão acorde, desperte, mostre que está atento e faça proposta para resolver os problemas do país”, disse.

Na coletiva, D´Urso disse que apóia o Movimento Cansamos da CUT, uma resposta ao Cansei. “Conversei com o presidente da CUT, Artur Henrique, e ele disse que o seu movimento, Cansamos, não tem um viés de oposição ao nosso movimento. E quero dizer que o nosso movimento, que a OAB apóia o movimento da CUT porque aqueles objetivos que estão sendo desfraldados lá, contra o trabalho escravo, contra o trabalho infantil, contra a exploração do trabalhador, em defesa dos direitos trabalhistas, são bandeiras históricas da OAB. Por isso nós apoiamos o movimento da CUT”, afirmou.

D´Urso também ressaltou que outras Seccionais da OAB têm os seus movimentos locais com perfil semelhante ao do Cansei. “´E nessa sinergia que nós queremos trabalhar. O presidente nacional da OAB, Cezar Brito, foi informado desde o início sobre os propósitos do Movimento e está acompanhando. Foi convidado para estar conosco em São Paulo no dia 17 de agosto, quando faremos um minuto de silêncio”, finalizou."


Do jornalista da Folha de São Paulo Gilberto Dimenstein:

Você não cansou?
da Folha Online

Não consegui entender direito o clima um tanto histérico, nutrido pelo governo, contra o movimento batizado de "Cansei", apontado como um núcleo conspiratório; outros viram ali uma reação ideológica conservadora como se o governo Lula não tivesse apoio entre setores da chamada "direita".

Alguns se incomodam com o fato de gente mais rica protestar como se todos, numa democracia, não tivessem o direito legítimo de protestar. É um direito não correr risco voando num avião.

Talvez, quem sabe, aquele movimento se converta em algo como maior consistência (inclusive conspiratória, com o olho na sucessão presidencial). Mas, por enquanto, o "Cansei" padece de um problema: o cansaço. Não propôs nada de concreto, rigorosamente, apenas a irritação --e, por isso, o cansaço é estéril.

Mas quem não cansou de ver um país com tantas possibilidades, com tantos recursos, sofrendo com tanta pobreza e violência? Quem não se cansou de ver tanto dinheiro público desperdiçado e sermos obrigados a pagar tanto imposto?
O que seria injusto é culpar apenas Lula, mas também seria injusto isentá-lo de parte da responsabilidade, pois seu governo vem investindo menos do que poderia em obras de infra-estrutura, torrando dinheiro com funcionalismo.
Não é possível ser um brasileiro com um mínimo de responsabilidade sem estar cansado da diferença entre o que somos e o que poderíamos ser, devido à crônica incompetência pública.

Bom, pegando como ganchos de pensamento os dois textos acima apresentados, eu diria à todos que eu já me cansei à muito tempo.

Defendendo a democracia como valor, antes de tudo. Tirar Lula do poder hoje, por incompetência, é bobagem. Porém, podemos e deveríamos retirá-lo do poder, democraticamente como fizemos com Fernando Collor de Mello em 1992 num processo de impeachment, e para tanto bastará ligarmos os recentes e consecutivos casos de corrupção ocorridos neste país como frutos da irresponsabilidade deste governo (que seria condenado por crime de responsabilidade, mesmo que não seja o governo corruptor, mas sim um facilitador para que isto se tornasse um fenômeno endêmico, incontrolável), que como sabemos, pagava mensalão para deputados federais votarem e tomarem decisões favoráveis ao governo - que costurava uma base política na base do clássico e velho "toma lá, dá cá", nada republicano.

Sei, como historiador, que as esquerdas brasileiras, oriundas das experiências e pensamentos socialistas de caracteres castrista (modelo cubano), trotskista e gramsciano (proliferados em nossos cursos superiores), stalinista (modelo soviético e que impera na maioria dos partidos políticos de esquerda, por isto a sua dificuldade em receber críticas, em serem questionados, pois como o grande urso russo sonham com uma sociedade reunida num coletivo apático, obediente, sob as ordens de um intelligentsia iluminada, no caso brasileiro liderados pelos José Dirceu e camaradagem) são muito sensíveis a qualquer típico de crítica, logo caracterizada como "golpismo", "atitude pequeno-burguesa", "ação contra-revolucionária", "perseguição dos poderosos e da grande mídia" e etc.

Não só sou favorável ao movimento organizado pela OAB-SP, como diria que tal organização demorara a aparecer, pois passou da hora de a sociedade, com capacidade de entendimento (pois a maioria se vendeu pela miséria e pelo assistencialismo que compra as consciências, travestindo-se de políticas sociais, quando a verdadeira política social é o investimento no país, que gerando riquezas poderá distribuí-las) se mostrar de alguma forma.

Não sou rico. Pelo contrário. Não sou da elite, burguesa, pelo contrário. Sou professor, sou funcionário público. Minha consciência este governo não compra e não comprará com assistencialismo (como o piso efêmero que será colocado para nós professores de R$ 850,00), aliás, a minha consciência é a minha consciência, construída dialeticamente na conjunção entre a experiência sensível, de vida, aliada aos estudos. E digo que cansei, e a muito tempo.

Cansei deste desgoverno. Cansei de ver o meu povo enganado, que só apoia Lula por ainda crer na "aréola" proletária que este ainda carregaria, e que nós, seres iluminados pelo conhecimento, educação, e acesso a informação de qualidade, já sabemos que o Presidente Lula à muito tempo já não representa mais isto. E assim, as classes médias e altas já o abandonaram, estas que tinham em Lula simpatia e que a ele deram seu voto após 8 anos de governo tucano que pouco fizera, significativamente, por este país. O povo esperava mais, muito mais. O povo queria distribuição de renda, e esta só é efetiva, pelas vias do trabalho, do emprego, não pelos bolsões que escravizam e que não geram valor. É continuar distribuindo o nosso "troco de pinga" nacional, é dividir a nossa miséria, e nunca produzir, ou melhor, reproduzir capital ativo, constante.

Eu afirmaria, como num velho conto infantil "o rei está nu". E só me resta o cansaço, que aliado a muitos outros cansados, logo seremos muitos. E então, eu assim espero, em 2010 daremos uma lição, bem dada, no PT e em sua base aliada, diminuindo-lhes sua representatividade política em municípios, estados e principalmente na União, onde a experiência petista não mais se repetirá. Sorte de todos nós, brasileiros acima de tudo.

Abraços liberais, nietzschianos e claro, cansados.









sábado, 4 de agosto de 2007

Resposta Necessária "uso a razão e não o porrete", e Ghiraldelli vs Chauí

Amigos e amigas, esta nova postagem é para responder uma provocação salutar de meu amigo, professor de Educação Física e árbitro de futebol, Wesley Moreira (petista convicto) que assim me falou enquanto bebíamos muitos chopps na noite belo-horizontina "você só usa o seu blog para criticar o governo! Você do PFL só poderia ficar fazendo isso".

Primeiro caro amigo, está difícil não criticar este governo. São escândalos e crises que se desenrolam uma após a outra. Seria bobagem minha mais uma vez enumerar, com casos entre 2002 e 2007, a incompetência de Lula como Presidente e de seu governo como administradores do país.

Não uso o blog exclusivamente para isto, aqui já discuti cultura (sobre a música ítalo-paulistana de Adoniram Barbosa), futilidades (como a revista Playboy do mês de julho onde pousava nua a auxiliar de arbitragem Ana Paula de Oliveira), religião (na última postagem quando analisei o cristianismo atual e sua historicidade, sob foco crítico de Nietzsche), e a América Latina (criticando abertamente o chavismo e outras manifestações do tipo, como na Bolívia). Mostro-me, ao contrário do que pensa o ilustre amigo, muito mais aberto, mais holístico e variado do que poderia imaginar a vossa visão petista de que estão sendo sempre perseguidos pela direita que oprime e que planta acusações contra este governo maravilhoso fazendo-se valer pelo uso da grande mídia para isto.

Outra coisa, não faço uso de meu blog para defender bandeiras partidárias, apesar dos tempos vividos como filiado ao PSDB e ao PL, que hoje fazem parte de meu passado político. Estou, no momento, distante da política partidária por entender que não me encontro com reais condições de atuação junto a um organismo partidário, pois para ser reconhecido em partido político não basta ter boas idéias, boa vontade, não, é necessário muito mais - ação social, influência, poder aquisitivo.

Creio que serei mais eficiente, como cidadão, tornando-me um olhar atento, analítico e as vezes crítico, do que ocorre neste país, e como professor e formador de pessoas e de opiniões é meu dever, inclusive profissional, posicionar-me perante meus alunos, meus companheiros e à sociedade a qual faço parte.

Foi bom você ter me questionado, pois se em algum momento transpareço usar este blog como mais um porrete para bater na cabeça de Lula, isto fiz de maneira inconsciente pois este não é e não será o meu objetivo com este blog. Ele transcende isto, ele deve sim, e sempre, refletir aquilo que penso, que tenho para dizer, aos que de alguma maneira aqui querem me ouvir. E assim, estará sempre aberto o leque de temas, de discussões. Se assim não fosse estaria usando o nome do blog "tiago menta usando o porrete", e não a proposta "tiago menta usando a razão".

E usando a razão que a natureza me deu, reafirmo: não tem este blog um sentido teleológico, visando denegrir um governo ou um partido, mas jamais me calarei, me silenciarei, como querem pessoas como a filósofa Marilena Chauí (que entende a crítica a este desgoverno a quem ela defende como ação contra-revolucionária, como ação sempre reacionária), e assim, sempre que Lula e seus aceclas cometerem erros estarei aqui, não como um lacerdista raivoso, mas como um professor, um historiador e filósofo, que jamais dispensará a crítica como mecanismo de consciência e de transformação.


  • A partir de hoje teremos em meu blog a ilustre participação e colaboração do Prof. Dr. em Filosofia da Educação, voz proeminente dentre os Filósofos Pragmatistas, e um dos realizadores do CEFA (Centro de Estudos em Filosofia Americana) Paulo Ghiraldelli Junior. No texto abaixo o prof Paulo coloca em discussão a posição de sua colega filósofa Marilena Chauí diante da crise instaurada com o caos aéreo nacional e de sua defesa, incolúme, do governo Lula mesmo que para isto ela negue a sua própria condição de filósofa, impondo o silêncio sobre toda forma de manifestação contrária e crítica a este governo - como se o mesmo fosse o único na história brasileira a ter o direito de errar, afinal seria este o único governo genuinamente do povo brasileiro por ali estar um dentre nós, o humilde operário Luís Inácio, que um dia perdeu um dos dedos no torno mecânico. Vejamos...
NA DEMOCRACIA, A DOR PODE SER EXPRESSA

Após certo silêncio, que eu acreditava prudente, Marilena Chauí voltou a falar. Não fez o gesto de Marco Aurélio Garcia, mas tentou usar de um discurso aparentemente sofisticado para, em resumo, dizer a mesma coisa que o professor da UNICAMP disse de modo bem mais sincero. Fica difícil acreditar que foi a professora de filosofia da USP quem disse o que disse. Todavia, é o que está no Blog do Paulo Henrique Amorim, chamado “Conversa Afiada”. Ele disse que fez as perguntas para usar em um curso de “Telejornalismo”. Vejam um trecho significativo:

Paulo Henrique Amorim pergunta: “‘Em leituras da Crise’, a sra. discute a tentativa do impeachment do Presidente na chamada ‘crise do mensalão’. A sra. vê sinais de uma nova tentativa de impeachment ?
Resposta da professora: “Sim. Como eu disse acima, a mídia e setores da oposição política ainda estão inconformados com a reeleição de Lula e farão durante o segundo mandato o que fizeram durante o primeiro, isto é, a tentativa contínua de um golpe de Estado.”

Leitor, antes de seguir o que escrevo, volte ao trecho acima, leia mais uma vez. Pare e pense: como que uma professora da nossa querida USP pode confundir impeachment e golpe de Estado? E qual a razão dela querer repreender a oposição por ter quase tentado o impeachment no primeiro mandato do Lula, quando do episódio do “mensalão”? Por acaso a oposição e a imprensa deveriam ficar caladas e aceitar o que ocorreu? Ora, todos nós sabemos que a oposição até fez pouco! E quem está vendo militares rebelados, desafiando Lula e querendo que ele caia? E qual a razão pela qual alguns órgãos da mídia, que sabem que parte da responsabilidade pelo acidente do avião da TAM é do governo, ao usar isso para fazer oposição ao governo, estaria comprometida com golpe de Estado e não com legítimo desempenho de ser oposição?

Caso Marilena Chauí não fosse professora de filosofia, eu não escreveria o que escrevo aqui. Eu deixaria passar. Mas é necessário que alguém que ama a filosofia, tanto quanto ela, coloque a filosofia ao lado da democracia. Não posso ficar quieto. Tenho de dizer três coisas simples, mas que todos sabem que é verdade.

Primeiro: na democracia que vivemos as pessoas que ficaram indignadas e feridas com o acidente da TAM possuem o direito de reclamar, como estão fazendo, do governo, e a imprensa faz o serviço correto ao dar voz para tais pessoas, pois elas não teriam outro canal para reclamar senão o da imprensa. Diante do ocorrido, as pessoas afetadas direta ou indiretamente estão até que muito conformadas.

Segundo: estamos em uma democracia, e as pessoas que reclamaram e colocaram TODA a culpa no governo, podem estar erradas, mas elas não estão chamando militares para dar golpe de Estado em ninguém, e se algumas delas gritam “fora Lula”, talvez tenham aprendido isso com a atitude do PT, que por qualquer coisa escrevia em muros, sujando São Paulo, “fora Sarney”, “Fora FHC” etc. O PT ensinou as pessoas a serem mais agressivas e, talvez, até anti-democráticas, ensinou a vaiar Presidente fora de hora (como no PAN), e algumas dessas pessoas aprenderam isso.

Terceiro: é preferível, em uma democracia, ter uma mídia exacerbadamente aguerrida contra o governo que ter uma mídia subserviente, que escuta somente o Poder, pois, afinal, abaixar a cabeça para o governo é mais fácil, e lhe daria vantagens, uma vez que as estatais gastam bastante com os meios de comunicação. Então, qualquer pessoa, principalmente o filósofo, quando vê uma imprensa aguerrida contra um governo, deve agradecer o destino, pois o mais comum é ver a imprensa ceder às benesses do Poder, que não poupa tentativas de cooptação.

O que quer Marilena Chauí? Ela quer que suas respostas cheguem no curso do Paulo Henrique Amorim, na “Casa do Saber”, para convencer os ricos que votaram no Alckmin que eles são todos golpistas? Ou ela quer fazer como Jânio Quadros e Brizola, que na base do puro populismo atacavam as redes de TV e os grandes jornais, se colocando como vingadores do povo, e acusavam os meios de comunicação de serem só defensores dos magnatas?

Será que Marilena Chauí, no frigir dos ovos, acredita mesmo que as liberdades que temos deveriam ser denominadas de “liberdades burguesas” e, por causa desse qualificativo, deveriam ser substituídas por “liberdades populares”? Será que ela, a quatro paredes, acredita que Chomsky e outros que são amigos de Chávez, poderiam garantir a ela mesma, Chauí, liberdade para escrever seus longos livros, com salário pago por nós, em um regime que levasse o nome de “República Popular”? Se ela acredita nisso, tenho o dever de lhe dizer o seguinte: você está enganada professora.

O compromisso de Marilena Chauí com a chamada verdade é o seu compromisso com a chamada verdade do PT. Ela perdeu a autonomia como filósofa, pois acredita em uma mágica, a saber, que a filosofia poderia continuar existindo em uma situação em que a imprensa viesse a ver o que viu, em Congonhas, e ficar quieta. Não, a filosofia perderia muito sem democracia. Nenhum de nós, filósofos de esquerda, pode querer levantar um dedo contra a imprensa por ela fazer gritaria contra o governo no episódio da queda do avião da TAM, pois os problemas do nosso caos aéreo são problemas do governo e, enfim, a queda do avião está entre esses problemas. Quem acredita no que Marilena Chauí acredita vai terminar por endossar a idéia que o melhor lugar do mundo para se viver é aquele onde você ganha uma medalha em jogos internacionais e não pode recebê-la, tem de voltar para casa como cachorro com o rabinho entre as pernas. Não, filósofos de esquerda que são filósofos democratas, não podem mais defender isso.

Há a possibilidade de amar a filosofia, ser de esquerda e, ao mesmo tempo, ser suficientemente democrata para ver com bons olhos a liberdade de imprensa – a completa liberdade de imprensa, sem quaisquer restrições. Vociferar contra a imprensa, evocando supostos conceitos filosóficos, me parece claramente uma tentativa de torcer as coisas, de preparar terreno para que concordemos com o fim de nossa capacidade de crítica. E isso não é o trabalho do autêntico filósofo.

Paulo Ghiraldelli Jr. O Filósofo da Cidade de S. Paulo

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

A Igreja de Constantino vive, a Igreja de Jesus morreu: sob a luz de Nietzsche

Amigos e amigas, o assunto tratado hoje será a religião. Pela primeira vez aqui em meu blog vamos abordar, criticamente (sempre), o cristianismo - fé por excelência de nosso mundo ocidental.

Não é sem razão que fora lançado um livro que promete ser polêmico "O Livro Negro do Cristianismo" dos autores Jacopo Fo, Sergio Tomat e Laura Ma (editora Ediouro, 272 páginas, R$ 32,90), dando continuidade a uma série de obras de intenso caráter crítico-analítico "O Livro Negro do Capitalismo", "O Livro Negro do Comunismo" e "O Livro Negro do Colonialismo".

Mas por que olhar a religião, seja o Cristianismo ou não, com um olhar crítico? Oras, esta deve ser a postura de todo cientista das humanidades e além, em estudos históricos e estatísticos sabe-se que a maior causa de derramamento de sangue em toda a história da humanidade é a religião. Assim, como não estudar, atentamente, as suas instituições, seus paradigmas, sua historicidade, sua base ética, sua atuação social e política?

Tratarei aqui do Cristianismo pela simples razão de ser a religião do mundo ocidental. Cristianismo que hoje se encontra dividido em muitas ramificações, desde as clássicas divisões entre católicos e ortodoxos, católicos e protestantes (luteranos e calvinistas), e hoje uma série de agremiações pentecostais, neo-pentecostais que aqui entre nós brasileiros costumamos denominar como "crentes" ou mesmo "evangélicos".

Pegando o gancho da obra "Livro Negro do Cristianismo" quero aqui iniciar profunda reflexão: mesmo com tantos crimes comprovados ao longo da história a fé cristã ainda é válida para o ser humano?

Respondo de maneira simples - sim, e sempre. E a razão é sociológica, ou seja, não há vida em sociedade possível com a inexistência da fé, da religiosidade. Isto devido ao seu caráter agregador, conciliador, e também intimidador - se o indivíduo não for ético, se não seguir com a ordem moral, irá pagar (no mundo espiritual) por sua desobediência, seja nas dores infernais ou durante o dia do juízo. Assim, com a religiosidade, como a cristã, os seres humanos criam laços sociais mais sólidos, amparados numa lógica metafísica de união e temor ao desconhecido.

A religião tem origem antropológica, relacionada a capacidade humana de produzir sonhos, ou imagens produzidas pelo cérebro enquanto estamos repousando o restante de nossa máquina corporal. Pois o sonho de alguma maneira era interpretado pelos homens mais primitivos como uma segunda realidade, criando assim a noção de mundo espiritual e da co-existência carne/espírito. Com a complexização do mundo humano esta crença no espírito e no mundo espiritual foi tomando formas institucionais, com regras, visão de mundo, moral, genealogia e cosmologia próprias, daí resultando no que conhecemos como Igrejas ou Religiões.

O problema da religião, segundo minha visão, é a base de seu discurso: a fé. Ter fé é negar a racionalidade, as relações causais, a própria natureza. Aquele que crê nada mais deve fazer diante de sua fé senão continuar crendo, sem provas ou manifestações concretas de sua crença - apesar que tentam demonstrar isto por meio de fenômenos conhecidos como milagres.

Nietzsche, filósofo alemão do século XIX, o maior e mais sagaz crítico que o Cristianismo conheceu, escrevia assim em trecho de "O ANTICRISTO":






"SE A CRENÇA É O MAIS IMPORTANTE, TORNAR-SE-Á OBVIAMENTE IMPRESCINDÍVEL LANÇAR O DESCRÉDITO SOBRE A RAZÃO, O CONHECIMENTO, A PESQUISA: O CAMINHO DA VERDADE TORNA-SE UM CAMINHO PROIBIDO." NIETZSCHE.

Ou seja, o Cristianismo não consegue comportar dentro de si o conhecimento, pois este baterá de frente com a sua base ética, a fé. Conhecer, saber, através do uso da razão, é uma atividade perigosa, e a Igreja Cristã em sua história aponta isto - lembremos de Galileu pressionado a negar as suas certezas científicas para não levar o mesmo destino de Giordano Bruno, queimado pela "Santa" Inquisição Romana. A Igreja, em nome da fé, de sua fé, de sua visão de mundo, negava, peremptoriamente, que a Terra girava em torno do Sol! A mesma Igreja que ainda nega, com veemência, a teoria evolutiva de Charles Darwin. Assim o Cristianismo sobrevive na negação da verdade racional, e na afirmação da verdade via fé cega, surda e muda.

Em sua institucionalidade o Cristianismo adquiriu, a partir dos primeiros séculos depois da morte de seu Messias/Jesus, contornos romanos, imperiais. Graças ao imperador romano Constantino, que transformou uma fé romana em uma instituição romana. E como instituição romana agregou-se a sua fé o caráter imperial-administrativo, hierárquico e político. Hoje o Papa Bento XVI é o único rei absolutista do mundo pós-moderno, e o Vaticano ainda mantém seu caráter estatal (depois de acordo com Mussolini e o Tratado de Latrão, transformando o Vaticano em Estado soberano).

Não sou cristão, sou agnóstico. Mas uma coisa é certa, este cristianismo atual não é a pedra angular que Jesus construiu. A Igreja Católica e as Igrejas Cristãs Não-Católicas são filhas do Imperador Romano Constantino e não de seu messias fundador. Elas fazem política, elas são violentas (na ação e no discurso) e intolerantes (pouco dialogam entre si, formando e disputando um mercado de ovelhas desamparadas e desesperadas, e também não dialogam com a sociedade por entender que só ele mesma, Igreja, deve cuidar da conduta ético-moral das pessoas), elas derramaram e ainda derramam muito sangue.

Mas mesmo assim, ainda é válido, sociológicamente falando, manter a religião em sua posição de orientação e unidade social. Contudo, devemos ter a consciência de que o niilismo hoje vivido neste mundo pós-moderno não é sinônimo de um afastamento de Deus, mas um afastamento das Igrejas de sua base original, no caso do cristianismo o chamado "Cristianismo Primitivo", que a Teologia da Libertação de homens como Leonardo Boff tentaram readaptar para a realidade e miserabilidade da América Latina, mas que a intolerância romana, personificadas em João Paulo II e Bento XVI, impediram de seguir adiante em sua vocação essencial "viver com e pelos pobres". Ou algum pobre reúne condições de se casar numa Igreja cristã (o que ela compreende como um sacramento)? Pois é, muita hipocrisia.

Finalizando, encerro com mestre Nietzsche, em mais um trecho polêmico de sua filosofia do martelo, encontrada com riqueza e propriedade em "O ANTICRISTO":

"O QUE É BOM? - TUDO AQUILO QUE DESPERTA NO HOMEM O SENTIMENTO DE PODER, A VONTADE DE PODER, O PRÓPRIO PODER.
O QUE É MAL? - TUDO O QUE NASCE DA FRAQUEZA.
O QUE É A FELICIDADE? - A SENSAÇÃO DE QUE O PODER CRESCE, DE QUE UMA RESISTÊNCIA FOI VENCIDA.
NENHUM CONTENTAMENTO, MAS MAIS PODER. NÃO A PAZ ACIMA DE TUDO, MAS A GUERRA. NÃO A VIRTUDE, MAS O VALOR.
QUANTO AOS FRACOS, AOS INCAPAZES, ESSES QUE PEREÇAM: PRIMEIRO PRINCÍPIO DA NOSSA CARIDADE. E HÁ MESMO QUE OS AJUDAR A DESAPARECER! O QUE É MAIS NOCIVO DO QUE TODOS OS VÍCIOS? - A COMPAIXÃO QUE SUPORTA A AÇÃO EM BENEFÍCIO DE TODOS OS FRACOS, DE TODOS OS INCAPAZES: O CRISTIANISMO."

FRIEDRICH NIETZSCHE