quinta-feira, 20 de agosto de 2009
A ARENA ROMANA MIDIÁTICA
Nas últimas semanas temos assistido a uma verdadeira batalha, só não se sabe ao certo a sua natureza: ideológica, econômica (ambas as coisas)? O certo é que as emissoras de televisão Rede Record (poder da fé evangélica/Igreja Universal do Reino de Deus/teologia da prosperidade) e Rede Globo (verdadeiro monopólio das telecomunicações brasileira/maior penetração entre os telespectadores brasileiros/símbolo da cultura de massas/braço forte das elites nacionais) estão, declaradamente, se pegando para valer em uma luta daquelas que mais parece uma arena romana: ou seja, desta batalha só uma sairá viva, e a luta obviamente só termina quando uma das combatentes cair morta.
Sabemos que esta briga não é nova, ela agora só parece ganhar novos contornos, mais escarnecidos. A justiça brasileira se insere no caso, mas demonstra não ter força suficiente para lidar com isso e com os interesses que fazem parte do caso. Assim, as duas redes ficam se acusando, alfinetando, mutuamente, via programação semanal (de preferência em seus telejornais ou programas de entretenimento) – pois elas sabem que a luta, a luta real, a arena romana real, se realiza nas mensagens que passam pelos milhões de tubos de imagem deste país, e não nos tribunais frios e distantes da justiça nacional.
Vamos às acusações - farei aqui o papel de advogado do diabo, ou melhor, advogado dos diabos (que missão infernal ein!):
REDE GLOBO
ARGUMENTOS
A rede Record é uma espécie de fachada para que a Igreja Universal de certa forma “lave” o dinheiro do dízimo de milhares de fiéis da mesma igreja.
A rede Record falta com a ética quando usa, indevidamente, o dinheiro de fiéis em investimentos na emissora, e não em benefício dos mesmos fiéis ou da referida igreja e seus programas sociais.
A rede Record é perigosa, pois mistura política, jornalismo e religião. A mesma tenciona transformar-se num projeto de fortalecimento, ideológico e econômico, da Igreja Universal do Reino de Deus, acelerando o processo de protestantização/evangelização do Brasil – através da ponte entre a miséria do povo e a chamada teologia da prosperidade.
REDE RECORD
ARGUMENTOS
A rede Globo começou esta guerra midiática, pois teme perder espaço para a rede Record, que está em ascensão. Um dos fatos que demonstra isso é além do crescimento da audiência da Record, a compra por esta rede de eventos internacionais do porte das Olimpíadas de Londres-2012 (transmissão exclusiva, em televisão aberta, da Record).
A rede Globo é um braço histórico das elites brasileiras, demonstrado muito bem no documentário britânico “Muito além do cidadão Kane”, em que é apresentada a ascensão da emissora carioca em conluio com estranhos processos durante o governo militar brasileiro (como a existência de dinheiro estrangeiro para a criação da emissora – grupo Time Life/Warner) e também com interesses burgueses (como a não cobertura do movimento pelas Diretas Já, e a interferência direta na disputa eleitoral em 1989, quando Collor vencera Lula).
A rede Globo exerce verdadeiro monopólio nas telecomunicações nacionais. Em síntese é uma emissora criada em meio a um regime político de exceção, e que possui como essência uma atitude antidemocrática.
A rede Globo serve aos interesses do catolicismo.
MEU JUÍZO
“Observando as acusações de ambas as emissoras, eu, Tiago Menta, historiador e filósofo, declaro ambas as emissoras culpadas. Assim estão as emissoras Record e Globo de televisão condenadas a sumir de nossa grade televisiva.
As duas cometem verdadeiro crime contra os interesses dos cidadãos brasileiros, apresentando-se como ícones da desinformação, alienação, deseducação.
Portanto, por todos os desserviços prestados a nação brasileira condeno-as a extinção sumária.
E por favor, guardas, prendam nas masmorras os senhores Roberto Marinho e Edir Macedo.”
Pá! (bati o meu martelo, com força, como orientaria Nietzsche).
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Dia dos Professores: quem são nossos professores de História?
Quem são os futuros professores de História em nosso país? Tomo como exemplo, como ponto de partida para possíveis respostas, a minha experiência pessoal nos 4 anos como estudante de graduação nesta instituição de nível superior mineira.
A maioria, como aponta estatísticas do MEC, faz uma licenciatura mas acaba não entrando em sala de aula. Formam-se professores e estes não querem e não exercem a sua profissão! O caos é maior em áreas como Física e Química, onde de cada 10 professores em sala de aula 7 não são nem físicos e nem químicos por formação.
Assim, uma boa parte de nossos futuros professores de História jamais serão, efetivamente, professores. Permanecerão fora da sala de aula, por razões simples: os salários e condições de trabalho não são nada atrativos, e isso eu sei muito bem.
Agora nos restam os que, como eu, exercem a profissão que escolheram, sendo professores de História e atuando, principalmente, nas escolas públicas das mais variadas redes de ensino do país. Estes se dividem em dois grupos distintos: bonecos e vagabundos de um lado, e de outro profissionais com personalidade e indivíduos independentes.
Me incluo no segundo grupo, com folga. Tinha comprometimento com minha formação, realizava meus estudos com empenho, demonstrava vontade em aprender e sabia dividir o que sabia com colegas e professores, mesmo que estes discordassem de minhas posições (o que não era raro). Não tinha medo de falar, de expor o que penso. Mas não possuía as amarras ideológicas do grupo mencionado anteriormente.
Mas falemos, criticamente, de nossos colegas débeis. Os chamados "bonecos e vagabundos" não possuem identidade, não são indivíduos, não pensam sozinhos e não possuem capacidade para isto (necessitam de um guru ideológico, de um professor revolucionário, de pessoas que lhe alimentem com falsas esperanças, com utopias velhas e que já tem gosto azedo a muito tempo). O lado vagabundo aflora sempre, não estudam, nem tem tempo pra isso porque estão ocupados com a política estudantil, com os movimentos sociais, com os bares da vida e com as drogas que lhes deixam sem capacidade de raciocínio (a maconha e a cocaína rolando soltas). São os esquerdolóides, são as viúvas dos modelos soviético-cubano-chinês e seus teóricos sem consistência (Lênin, Stálin, Trotski, Gramsci, Che, Fidel, Mao). Estes geralmente se formam como reprodutores da ideologia da velha esquerda, e quando chegam em nossas escolas públicas cospem, vomitam, este discurso nojento em nossos alunos e alunas (vejam o caso do livro didático "História Crítica" e as apontadas conquistas dos governos de Cuba e da ex-URSS, sem mencionar a censura a imprensa, o parentesco com outras formas de autoritarismo, os milhões de mortos, a intolerância).
Estes professores baseiam os seus planos de curso em análises do Capitalismo, nos males do Capitalismo, de como o Capitalismo foi construído historicamente e de maneira dialética desde a História Primitiva/apontada como Comunismo Primitivo (no sentido marxista), e nada mais fazem senão em pouco mais de 11 anos de ensino de História nos níveis fundamental e médio trabalhar muito mais "A História do Capitalismo" do que História mesmo.
A boa notícia, para nossos estudantes, é que estes professores de História "vagabundos e bonecos" não possuem longevidade profissional, pois acabam sendo engolidos pela lógica de mercado - que eles excluem ideológicamente e que não conseguem lidar com isso, ou seja, não são competitivos, e vocês certamente não os encontrarão em boas escolas. Eles ficarão confinados e presos as escolas mais desestruturadas, e lá eles permanecerão felizes, pois ao invés de dar aulas de História ele estará realizando mais um projeto social, mais uma ação social, o que lhe exige apenas boa vontade e não conhecimentos. Lógico, uns ou outros permanecerão confinados em algumas instituições de nível superior, onde todos juntos irão adorar o seu Deus mitológico: a revolução!
Enquanto isso, estou fazendo o meu trabalho, como bom profissional. A educação brasileira e meus alunos e alunas agradecem. Feliz dia dos professores, aliás dos verdadeiros professores.....que educam, que orientam, e que nunca doutrinam.
Abraços liberais, Tiago Menta.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Discutindo "Che"
"Che" é talvez a figura mais típica da Guerra Fria, daqueles anos onde o mundo se dividia entre capitalistas e socialistas. E neste arcabouço vieram a corrida espacial e armamentista, Stálin, Kennedy, Krutchev, Lindon Johnson, as ditaduras latino-americanas, as Revoluções na China e em Cuba, a guerra do Vietnã, e por fim Reagen, a dama de ferro inglesa, Gorbatchev, a queda do muro de Berlim, etc...
"Che" pertence a esta época não só fisicamente, mas primordialmente Che viveu de maneira "ideológica". Até em suas cartas mais pessoais, por exemplo enviadas para os filhos que mal convivera enquanto lutava pelos seus ideais, ele afirmava coisas do tipo "quando o imperialismo acabar o papai vai levar todos vocês para passear (...) estude minha filha, seja uma revolucionária (...) quando você crescer e assumir seu papel na luta você entenderá porque estou sempre distante de vocês (...)".
Porém é necessário reafirmar, nestes 40 anos passados, que "Che" morreu. Sim, ele está morto, e levara consigo uma época, uma ideologia. E o que hoje vemos como guevarismo é muito mais um estilo, um estilo arrojado e adolescente (conflituoso, desafiador), no sentido estético que ainda se faz representar (vendagem de camisetas, bonés, posters) do que propriamente o guevarismo representava nos idos dos anos 60 e 70 - uma opção política, uma via social, de luta, de guerrilha, alinhada com o projeto socialista que ainda pulsava naquele momento.
"Che" tornou-se uma marca mundialmente conhecida, não pelo homem que foi, mas como símbolo de rebeldia, metamorfoseado em uma espécie de James Dean da América Latina. Sua chama, com os tempos, vai se esvaindo pouco a pouco, até pela mercantilização da figura de "Che", e creio que esta chama encontrará o seu derradeiro final no dia, próximo, em que Fidel Castro, ditador cubano que governa a ilha socialista a mais de 40 anos, finalmente desencarnar e deixar o povo cubano em paz.
Aqueles, poucos, mas ainda sobreviventes, que exalam certo guevarismo em nossas universidades e cursos de ciências humanas, são como coloca o professor Ghiraldelli "aborrecentes" que promovem o guevarismo utilizando-se, inapropriadamente do discurso de Marx. Ou seja, estudam Marx, lêem Marx, mas enxergam "Che" e escrevem, pobremente, como "Che".
"Che" que tentou, mas não conseguiu, transformar-se num teórico do socialismo. "Che" é uma espécie de "filho bastardo", junto com Fidel Castro, do modelo chinês da via socialista - a guerrilha. Mãe chinesa que dera a luz a manifestações tupiniquins, como José Dirceu (que treinou guerrilha em Cuba) ou o hoje ministro Franklin Martins (partícipe do sequestro do embaixador norte-americano durante nossa ditadura militar). "Che" tentou ler Hegel, e como diz em cartas "não consegui compreendê-lo", e ao citar as leituras que fazia dos textos de Karl Marx o citava pelo apelido de "São Carlos"! "Che" enviou ao ministro da educação cubano um programa de estudos para as escolas cubanas que incluía as leituras de Lênin, Stálin, Trotski, Martí. "Che", como todo bom comunista, quis inserir componentes ideológicos na educação, doutrinando-a.
E assim pintamos o retrato de Ernesto Guevara - médico medíocre, teórico medíocre, escritor medíocre, porém homem extremamente idealista (a ponto de alienar-se por completo como indivíduo), corajoso. Aqueles que ainda se inspiram em "Che" o fazem por não vislumbrarem outras saídas, verdadeiras, para os problemas latino-americanos - e isto ocorre por incompreensão da realidade e por leituras retorcidas e incompetentes do mundo contemporâneo. E fazem isso justificando a ação, a ação revolucionária, o socialismo prático e segundo estes, necessário. As Farc colombianas se alimentam disso até hoje.
Não há imperialismos no sentido que haviam nos anos 60, 70; não há mais uma via socialista, até porque o socialismo morreu definitivamente com o bloco soviético e seus filhotes; as guerrilhas de hoje são mais uma corja de bandidos do que homens com verdadeiros ideais de transformação social; vivemos na arena globalizada, mundializada, e não mais cabe vislumbres de uma latinidade, de um projeto latino-americano; Che foi morto na Bolívia em 1967 e continua morto, duplamente: como ser e como símbolo ideológico. E quem ainda lhe concede alguma vida? O mercado. Quanta ironia, e se "Che" estiver no inferno a sua estadia será ainda mais dolorosa ao saber que as forças capitalistas hoje usufruem de sua imagem, transformada em milhões e milhões de camisetas e outros produtos.
"Che" é sucesso de vendas, "Che" é hoje, em 2007, um gerador eficiente de mais-valia. Parabéns Guevara....
Continuando a prosear sobre Ernesto "Che" Guevara, o professor Paulo Ghiraldelli Júnior me enviou um texto muito bom sobre o guevarismo camuflado de um pretenso marxismo que hoje se prolifera nos trabalhos acadêmicos.
Pobre professor Paulo, lhe imagino lendo as alucinações revolucionárias de algumas mulas esquerdistas que ainda se reproduzem em nossas instituições de ensino "superior". E para tornar mais agravante, o guevarismo adentra a teoria da educação, só faltando a transformação de nossas escolas em verdadeiras guerrilhas, com nossos alunos uniformizados pela incompetência e armados com a intolerância.
E pior ainda para o genial Karl Marx. Transformado em "Che". Em comum os dois só tinham o fato de não tomarem banho (Guevara passou 6 meses sem tomar um único banho quando estava em terras bolivianas, e Marx era sempre alertado pela mãe que em cartas pedia ao filho que cuidasse de sua higiene). No mais são seres de planetas diferentes: Marx inclusive condena os ditos marxistas, e "Che" alinha-se mais a Lênin e a Stálin, todos marxistas e alienados. Marx é uma espécie de "Platão" dentro da teoria socialista, ou seja, ele é um paradigma. Todos os posteriores tomaram seus trabalhos como uma revisão ou mesmo interpretação das obras fundantes de Marx, e pior, sem a sua competência.
Abraços liberais a todos e boa leitura.....
terça-feira, 9 de outubro de 2007
AS DROGAS MATAM - A HIPOCRISIA MATA MAIS
Amigos e amigas, aproveitando o gancho do filme “Tropa de Elite” e do livro “Elite da Tropa” quero aqui despertar um debate, uma reflexão, em torno de um assunto muito delicado, quase tabu: a descriminalização das drogas.
O filme e o livro abordam pelo viés policial (BOPE – Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro) a guerra vivida diariamente em metrópoles brasileiras como o Rio de Janeiro. Guerra causada pela venda e consumo de drogas, pela organização do tráfico. As metrópoles brasileiras tornaram-se locus dos mais violentos do mundo, onde diariamente um número acentuado de vidas humanas são perdidas (em dados oficiais a soma da violência urbana no Brasil supera, em número de óbitos, as contagens encontradas em conflitos como o que hoje se desenvolve no Iraque ocupado pelas tropas norte-americanas).
O quadro que hoje assistimos é caótico: polícia mal equipada e mal paga, com altos índices de corrupção, o estabelecimento de poderes paralelos ao Estado brasileiro nas mais diversas favelas e áreas periféricas do país, entrada descontrolada de armas, miséria e subdesenvolvimento que obrigam crianças e adolescentes a trabalharem para o crime, crise de valores que fazem com que crianças e adolescentes consumam mais e novas drogas (desde o menino de rua que fuma crack na calçada, passando pelo jovem de classe média que fuma maconha na universidade, até os mais ricos que cheiram cocaína ou tomam ecstasy no meio de baladas, festas have, orgias, etc).
Combater o tráfico na base da porrada pode agradar muitos, inclusive legitimando o uso da tortura como método policial. Muitos ao assistirem o capitão Nascimento (personagem de Wagner Moura em Tropa de Elite) espancando traficantes, moradores de favelas, estudantes e usuários de drogas, o aplaudem como que se o personagem assumisse entre nós a figura de “paladino da justiça”, como aquele que desfere a nossa vingança sobre este mundo do crime que hoje nos incomoda e nos escraviza (afinal não estamos mais livres nem em nossas casas, que diria nos sinais de trânsito, nas ruas). Capitão Nascimento vai se tornando, para setores da sociedade brasileira (como Luciano Huck indignado após recente assalto sofrido no bairro do Jardins
Capitão Nascimento é um funcionário a serviço da limpeza, da limpeza urbana, da limpeza social – ele entra na favela, como manda a filosofia do BOPE, e sua missão é simples: matar! (leia-se: limpar).
Porém, a sociedade se enganou numa coisa – a limpeza, na base da violência, utilizando os vários “Capitão Nascimento” de nossas organizações e instituições de segurança, não se mostra suficiente para combater, no âmago, a questão do tráfico de drogas. E para este problema, em meu entendimento, só há um solução, coincidentemente liberal por excelência: a descriminalização.
Por que existe tráfico? Por que ele é tão poderoso em armas e capital financeiro? Por que ele tem poder de influência? A resposta para estas perguntas é uma só: porque o tráfico, a condição de ilegalidade, proporciona tudo isso, todo este poder. O exemplo maior retiramos dos Estados Unidos no início do século passado quando sua sociedade puritana instituiu a chamada “Lei Seca”, proibindo a venda e o consumo de álcool em território norte-americano, resultado: a máfia de Al Capone e de outros chefões do crime, organizado em torno do tráfico de bebidas alcoólicas, que logo se somava a outros crimes como o jogo e a exploração sobre a prostituição. Al Capone a máfia que se instalou na sociedade norte-americana são frutos do puritanismo besta que marca a cultura norte-americana.
Transpondo esta questão para a realidade brasileira a lógica é a mesma: proibir a venda e o consumo de cocaína, maconha, LSD, ecstasy, crack, etc, é ao mesmo tempo criar um mercado paralelo, proibitivo, portanto, mais lucrativo. Afinal, você pagará mais por algo que não encontra em qualquer esquina, assim já diz a lei simples da economia. Ao passo que quem lida com um mercado proibitivo, ilegal, terá que lutar contra as forças da legalidade, contra o Estado, e assim serão necessárias a compra de armas e outras estruturas de defesa. Logo, como atuam num mercado restrito e muito lucrativo conseguem adquirir suas armas com muita facilidade devido ao poder do dinheiro, e logo o mesmo poder do dinheiro comprará setores da sociedade, já que o dinheiro é instrumento eficaz quando o assunto é influência e corrupção. E assim uma simples proibição dá vida, dá energia, inicialmente a um mercado restrito e lucrativo, que em seguida se arma e se organiza para sobreviver enquanto ilegalidade (pois é mais lucrativa), e logo devido ao seu poderio econômico e até bélico está atuando na sociedade de forma a corrompê-la (a extorsão, a propina, a corrupção, a lavagem de dinheiro, o silêncio).
Como acabar com esta situação de caos, e com este ciclo de destruição, conflitos e mortes? Indo em direção ao âmago da questão: a proibição.
Com a descriminalização da droga não haverá mais tráfico. Todos poderão comprar, na farmácia mais próxima, em laboratórios, ou mesmo em padarias (cigarros de maconha, em maços como os ditos legais) a droga de sua preferência, alimentando o seu vício e assumindo, como indivíduo livre, a sua autodestruição (pois é fato que estas fazem mal a saúde e causam dependência físico/química/emocional como também o causam cigarros comuns, álcool, e alguns medicamentos). Com o mercado aberto os preços da droga cairão drasticamente, o que tirará delas a atração que hoje elas tem sobre os mais pobres e excluídos (ganhos rápidos e altos). Com a legalidade ninguém precisará comprar armas para defender o seu mercado lucrativo da ameaça do Estado e assim o tráfico de armas também se reduzirá. Menos armas, logo menos mortes.
Mas se é tão óbvio, por que não descriminalizam? Por dois fatores: um nosso, outro dos traficantes e de quem se beneficia do tráfico. O nosso diz respeito à hipocrisia e ao puritanismo da sociedade brasileira, que prefere ver seus filhos mortos nesta barbárie urbana do que assumir que faz uso e consome drogas. Consumir drogas faz mal? Sim, mas o corpo é uma posse individual, e temos o direito de destruí-lo se assim o entendermos, só não temos o direito de destruir o outro, os outros, e é isto o que o tráfico faz. Como coloca a teoria liberal mais clássica o Estado não tem o direito de me dizer o que eu devo consumir ou não consumir, o que eu devo pensar, como eu devo me vestir, me comportar. Quando nossos atos não atingem a liberdade dos outros, não destroem a coesão social, qualquer que seja a nossa ação ela é legítima.
Exemplo: quando eu chego em casa e tomo duas garrafas de uísque e caio embriagado na cama, isto é direito meu. Porém se eu vou ao supermercado, compro a bebida, tomo dirigindo e com meu veículo atropelo outras pessoas num ponto de ônibus ai sim estarei cometendo um delito, passível de punições e ai sim o Estado, como legítimo detentor da força e da violência, deve agir sobre a minha conduta.
Quando um jovem entra numa farmácia e compra
A outra razão é a mais simples: o traficante não quer perder a rentabilidade e o poderio conquistados pela existência deste mercado proibitivo, paralelo, e muito, muito lucrativo. Se amanhã todo mundo tem o produto que hoje eu vendo com certa exclusividade o negócio em certo se tornará menos atrativo, pois a concorrência e a legalidade abaixará os preços e diminuirá os meus lucros.
Portanto, amigos, amigas, cidadãos do Brasil, vos conclamo a um desafio: vamos legalizar as drogas, vamos dar um fim ao tráfico, e daí procuremos tratar nossos viciados como hoje os AA tratam de dependentes do álcool, com campanhas do Ministério da Saúde (oferecendo gratuitamente tratamentos de desintoxicação), e para aqueles que ainda assim, cientes dos perigos do consumo de drogas, insistem em usá-las não nos restará outra coisa senão respeitá-los e aceitá-los em suas decisões mesmo que estas lhe causem a morte brevemente, e estes só seriam responsabilizados ou mesmo punidos pelo Estado caso cometessem crimes comuns derivativos do uso e não condenados pelo uso pura e simplesmente. Chega de hipocrisia. Além das drogas, a hipocrisia mata!
Abraços liberais.
Tiago Menta.
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Para nossos jovens todo escravo é negro!
Trabalhando como professor no ensino fundamental tenho me deparado com uma triste realidade: a percepção distorcida que nossos educandos possuem sobre a relação escravidão-etnia-raça negra.
Corrigindo provas de alguns alunos da sétima série do ensino fundamental é comum encontrar a seguinte resposta para as perguntas “quem eram os escravos na Roma antiga? Como eles se tornaram escravos?”: “os escravos eram os negros que vinham da África para Roma”. Confesso que fiquei assustado, não pelo erro (que faz parte da aprendizagem), mas pela herança cultural, maldita, que naturalizou nossos estudantes com a idéia de que todo escravo, independente de contextos históricos, é e sempre será negro e vindo do continente africano.
Criticamente, eximindo nossos jovens de qualquer culpa sobre esta visão distorcida da história, pensemos: por que isso acontece?
Tamanha distorção é fruto das atitudes de nossos negros que diante de qualquer debate social e econômico fazem questão de enfatizarem, sem os devidos cuidados conceituais, as heranças coloniais e escravistas que não só impediram a plena participação do negro na sociedade brasileira como também transformaram o continente africano num “continente excluído”.
É salutar que nossos alunos adquiram consciência social, espírito crítico e percebam que não é por acaso que grande parcela de nossos desempregados, marginais, população carcerária, sem-tetos, favelados, são indivíduos de traços negróides (termo antropológico). A nossa herança cultural, os nossos mais de trezentos anos de uso dos negros africanos como escravos, a nossa falsa e hipócrita abolição de 1888 (sem inserção social, sem projetos) que objetivava agradar aos ingleses que aqui desejavam a implantação do trabalho assalariado e a formação de um mercado consumidor crescente, são determinantes, condicionantes, para a situação de exclusão e miserabilidade de nossos irmãos e cidadãos negros do Brasil.
Como historiador, e antes educador, é meu dever corrigir distorções sobre o conhecimento histórico em sala de aula. O escravo negro trazido da África para as Américas é uma das manifestações de uma cruel organização e divisão do trabalho conceituada como “Escravismo”. O escravismo romano, trabalhado pelos alunos, não possui caráter étnico, mas econômico e militar. Os romanos escravizaram caucasianos como os macedônios, os gregos e os gauleses, mongolóides nas regiões mais orientais de seu Império, negróides como os cartagineses do norte da África e mestiços como os povos da península arábica.
Cabem aos negros brasileiros uma nova postura diante do trágico antepassado escravista: ao afirmarem a palavra “escravidão” substituam-na pelas expressões “Escravismo Colonial” ou mesmo “Escravismo Moderno” e certamente, em algumas décadas, nossos jovens saberão que o escravismo não é um fenômeno exclusivo dos negros africanos mas sim que é um artifício econômico dos mais sórdidos da história de toda a humanidade, e que ainda por cima possui uma variedade de aspectos determinados pelo contexto histórico em análise.
TIAGO DE CASTRO MENTA É BACHAREL E LICENCIADO
ATUA COMO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DE MINAS GERAIS.
ENSAIO PRODUZIDO COMO MATERIAL DE APOIO AO PROJETO “CONSCIÊNCIA NEGRA” DA ESCOLA ESTADUAL DEPUTADO ÁLVARO SALLES
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Tiago Menta e Paulo Ghiraldelli debatem o velho Hobsbawm e o anacronismo de Veja
Eu imaginava que Hobsbawm fosse quase um filósofo, que fosse um historiador que funcionasse como um pensador livre. No entanto, a partir da queda do Muro de Berlim, ele foi ficando amargo e triste. O mundo no qual ele sabia viver era o da Guerra Fria. Ele não consegue mais ter esperança num mundo em que os Estados Unidos possuem hegemonia. Hobsbawm parecia um pensador da esquerda democrática, mas, no fundo, não era. Não se adaptou bem ao mundo em que a democracia passou a ficar mais importante para as pessoas que o comunismo.
Prof Paulo, foi com estranheza que vi a edição desta semana da revista Veja nas bancas. Pensei "mas que despropósito! Nas últimas semanas estávamos muito mais compelidos a leitura de artigos sobre a crise infindável que assola a nossa vida política, e outras questões como a educação, o meio ambiente, etc" e de repente lá estava "Che" numa capa de Veja. Confesso que levei um certo susto.
Foi bom e proveitoso saber que o historiador anglo-egípcio Eric Hobsbawm voltou a dar as caras, mesmo que para mostrar o seu cansaço e o seu dessabor pelo novo mundo surgido pós-Socialismo Real. Hobsbawm ainda é referência para o estudo da história, especialmente quando tratamos do século passado e os litros de sangue derramados pelo mesmo. Não há como não ler as suas famosas "Eras": a das Revoluções, dos Impérios, dos Extremos. Porém, deve-se fazer a leitura de Hobsbawm como hoje se faz a leitura, por exemplo, de um Edward Thompson, com ressalvas (os devidos soros anti-ideológicos) e com a certeza de que o referido autor além de brilhante intelectual também apresenta engajamento (com o projeto socialista), característico na época vivida pela Guerra Fria, onde se intitulavam como "revolucionários".
A Guerra Fria obrigava o pretenso pensador, o intelectual, ao engajamento, ou melhor, ao posicionamento político. Hobsbawm não foge a regra e abraça o marximo-leninismo, como aqui abraçaram por exemplo Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes. Até Fernando Henrique Cardoso, pasmem (sob a devida orientação do mestre Florestan, trabalhando especificamente a escravidão no sul do país). Mas a Guerra Fria, como aponta o caro amigo Paulo, já acabou e foi o melhor para todos.
E aqui a revista Veja erra, e erra feio. Não há sentido em publicar, hoje nos idos de 2007, uma matéria tão ideologizante, tão anos 70, tão "Guerra Fria". Contudo, há um sentido nisso, podem ter certeza. A Veja quer, de alguma maneira, aflorar em nosso país, em nossas camadas médias e altas, escolarizadas e consumidoras de periódicos, o sentimento anti-esquerdista, contra tudo aquilo que marcara as décadas de 60 e 70, berço de partidos como o Partido dos Trabalhadores - síntese histórica de todas as contradições e conflitos vividos ao longos dos 21 anos de regime militar (apesar dos desvios, retrocessos e erros que este comete no poder).
Veja quando traz em sua capa uma certa farsa na figura de "Che", sem nenhum propósito mais concreto, jornalístico, ela mostra a sua face ideológica, retroagida, anacrônica. E com alvo definido: Lula e o PT. Atacar e desmistificar Guevara corresponde, mesmo no inconsciente, atacar Chávez, Morales, Fidel, até chegarmos ao seu compatriota tupiniquim Lula. Veja quer acirrar, em pleno século 21, uma mística e anacrônica "luta de classes". Veja quer ir além do jornalismo, Veja quer fazer política, e para isto se legitima pelo chamado "jornalismo investigativo", até que em alguns momentos, como o atual, num certo vazio factual, ela publica matérias de caráter ideológico - como ela queria com o amigo Paulo no tratante a educação nacional e o ensino de História que estaria doutrinando as nossas crianças da rede pública (no pretexto de que nossos professores são marxistas).
Sobre nossos professores, educadores, marxistas, Veja demonstra a mesma iniciativa ideologizante. Como professor que sou, na ativa, e graduado a pouco tempo, posso afirmar que muitos de meus professores estão como Eric Hobbawm - desacreditados, tristes, com a democracia brasileira e com a hegemonia norte-americana (que eles costumam abordar com o sofrível nome de estadunidenses), que eles ainda enxergam imperialismos onde se vive globalizações e mundializações, que eles saem correndo dos computadores e se recusam a pesquisar na internet. Bom estes professores, ideologizados, marxistas, leninistas, maoístas, luxemburguistas, e muitos, mas muitos mesmo gramscianos, não estão em nossas escolas públicas - mas em nossas universidades privadas. Eu presenciei isto. Contrários a eles, em menor número, estão historiadores ditos "culturalistas" - que trabalham o conhecimento histórico e seus derivados como o fizeram a escola francesa do século passado (Bloch, Febvre, Braudel, Le Goff) e alguns historiadores como o italiano Carlo Ginzburg e o norte-americano Dalton. E por fim, alguns muito poucos, muito poucos mesmo, são como eu - próximos do historicismo (aqui a relevância da Filosofia da História) e de escolas sociológicas, ambos de caráter germânico (Weber, Norbert Elias, Ranke, Dilthey, Karl Schorske).
Bom, os meus filtros ideológicos estão intactos. Leio Veja e gosto da revista, mas reconheço os seus erros e além, os seus excessos. Veja caminha para ser muito mais uma Revista que faz política do que uma revista que informa o seu leitor- e isso poderá lhe ser fatal (ou não se lembram dos ataques sofridos nas redações de jornais oposicionistas após o suicídio de Vargas?). Leio Diogo Mainardi, gosto de seu estilo "dedo-duro" apontando na cara do governo, mas reconheço os seus limites e lacunas intelectuais (só descer a lenha não adianta, é necessário mostrar os erros e propor soluções).
Não sou como Mainardi, não sou como Veja, mesmo quando esbravejo contra o PT e seu desgoverno. Pois ao contrário destes eu pelo menos procuro apontar caminhos para os problemas do país - políticas liberais: Estado enxuto, parlamentarismo, inserção na ordem global e abertura econômica, privatizações estratégicas e intensivas, reformas estruturais, política de educação, liberação da venda e consumo de drogas, controle de natalidade.
Abraços do colega historiador, e também satisfeito com a nova ordem pós 1989 Tiago Menta.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Presidente Lula: mais símbolo, menos governante
Em seguida o Lula contemporâneo, já Presidente da República reeleito, graças a campanha vitoriosa de 2002 marcada por uma nova postura política, menos esquerdista e mais conciliadora - o que a imprensa chamava de "lulinha paz e amor".
Olhando as fotos, comparando épocas e contextos, e sabendo que os indíviduos tendem a crescer ao longo da vida com a experiência, podemos ter a convicção de que o Lula da primeira imagem não aponta para o Lula da imagem seguinte, são homens completamente diferentes. Melhor para o Brasil.
E assim quero aqui posicionar-me diante de nosso Presidente, valendo-me das inspiradoras, e não menos irônicas e pedagógicas imagens. Qual a minha visão sobre a figura do Presidente Lula?
Lula não é um bom Presidente. Nunca acreditei, e nem acreditarei no projeto social do Partido dos Trabalhadores, contudo jamais poderia imaginar o que já ocorreu e o que não ocorreu nestes anos de Lula no poder: corrupção sistêmica e desenvolvimento do país.
Lula não estava e ainda não está preparado para governar um país como o Brasil. Lula funciona melhor como um ícone, como um simbolismo de um Brasil que nasce na miséria e na luta pela sobrevivência, que não se educa, e que vive numa sistemática e umbilical dependência do Estado (por isso o emparelhamento que hoje vivemos e o inchaço cada dia maior do setor público e das atribuições estatais).
Não posso falar do homem, até por não conhecê-lo. Falo do administrador, do homem público, do chefe de governo e de Estado. E ele só não peca, não comete tantos erros, como chefe de Estado - afinal sabe representar bem, apesar dos sérios problemas linguísticos, o nosso povo no exterior perante as outras nações e chefes de Estado (Lula consegue dialogar com Chávez e Bush, consegue ser político e meta-ideológico nos assuntos internacionais). Como administrador é incapaz, lembremos "nenhum governo pode abrir mão da CPMF", "eu não sei de nada", "nunca antes na história deste país ...." etc E aí estão escândalos somando-se a outros escândalos.
Lula governa no imobilismo, na letargia. Seu governo é um reflexo dos 8 anos do governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso e do PSDB - a impressão que se dá é que de 1994 até hoje muito pouco ou nada mudou: as reformas essenciais não vieram e não virão (política, trabalhista, tributária), a justificativa economicista que ainda recai sobre o plano real, a taxa de juros conservadora, a busca por superávits, e o crescimento anual do país até hoje não atingiu e com muita dificuldade atingirá os 5%. A violência e a impunidade continuam. E as políticas assistencialistas estão aí, como o bolsa escola depois transformado em bolsa família (a grande chaga que impedirá o crescimento do país, já que o nosso bolo será eternamente pequeno mesmo que repartido).
Seu governo, hoje nos idos de 2007, a 3 anos de novas eleições, já acabou. Nada mais irá ocorrer em termos de mudanças profundas, de atitudes inovadoras que coloquem o país no caminho do progresso. Fato é que já se discute sua sucessão, inclusive com Ciro Gomes nas ruas, Aécio e Serra governando como que atuando num palco, e a base aliada (especialmente o PMDB do atual ministro do caos aéreo Nelson Jobim) cada vez mais tomando conta do governo em busca de um futuro apoio em 2010 - já que o PT não tem condições, nem quadros, para embarcar um sucessor para Lula (e assim permanecerá enquanto o partido continuar sob liderança paulista, na qual apontaria como a ala podre e fétida do partido - Marco Aurélio Garcia, José Dirceu, Ricardo Bezzoini, José Genuíno, Aloísio Mercadante, Marta Suplicy, etc).
Muito se tem debatido sobre o fato de que nosso Presidente não é um homem das "letras". Concordo em dizer que para governar o Brasil não é necessário ser um eminente intelectual, como mostra o governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Mas falta a Lula muitas coisas, diria essenciais a um governante: mais conhecimento. Lula tem dificuldade em se expressar, privilegia o improviso e não a organização racional do pensamento, fazendo-o falar pelos "cotovelos" e a cometer uma série de gafes. Lula é uma boca, apenas uma boca, que fala, que ecoa a fala "oficial", a voz do governo, mas não pensa, nada cria. E esta incapacidade para a criação lhe impede ser um bom governante, um bom administrador, não basta fazer política para ser um bom Presidente (foi isso que ele aprendeu nos anos como sindicalista, sempre negociar, nunca criar).
Lula é o mais pedagógico dos governantes que o Brasil já tivera, para ensinar ao povo brasileiro de que não basta "boas intenções" para governar o Brasil. De que o governo não precisa ser um reflexo do que somos, mas que ele deve ser melhor do que somos, afinal irá conduzir muito de nossas vidas. O brasileiro vai aprender que as esquerdas não funcionaram e que não sabem governar, e que PT e PSDB são duas faces de uma mesma moeda. O brasileiro, nas próximas eleições que ainda estarão por vir, vai começar a pedir por mais e por melhor, por algo diferente na vida política: que reúna carisma e competência, credibilidade e vontade de fazer mudanças, que tenha coragem de retirar o país do comodismo e que nos faça trabalhar para construir uma nação mais próspera, pois só com prosperidade é possível não fazer justiça social, mas possibilitar justiça social de maneira espontânea e uniforme - dando uma morte rápida ao patrimonialismo, ao fisiologismo e ao nosso maior câncer: o assistencialismo.
Na postagem anterior homenageei o prof norte-americano Milton Friedman, da chamada "escola de Chicago" de orientações liberais.
Na postagem de hoje irei aqui deixar alguns parágrafos da obra "O caminho da servidão" do prof Friedrich von Hayek,economista, filósofo e psicólogo austríaco, da chamada "escola de Viena".
Boa leitura e abraços liberais:
Se o socialismo substituiu o liberalismo como a doutrina da grande maioria dos progressistas, isso não significa apenas que as pessoas tenham esquecido as advertências dos grandes pensadores liberais sobre as conseqüências do coletivismo.
Quase não ocorre hoje que o socialismo era, de início, francamente autoritário. No que se referia à liberdade, os fundadores do socialismo não escondiam suas intenções. Eles consideravam a liberdade de pensamento a origem de todos os males da sociedade do século XIX, e o primeiro dos planejadores modernos, Saint-Simon, chegou a predizer que aqueles que não obedecessem às comissões de planejamento por ele propostas seriam "tratados como gado".
Tocqueville, mais do que ninguém, percebeu que a democracia, como instituição essencialmente individualista, entrava em contradição frontal com o socialismo. Segundo ele, "democracia e socialismo nada têm em comum exceto uma palavra: igualdade". Mas, advertia o próprio Tocqueville que "enquanto a democracia procura a igualdade na liberdade, o socialismo procura a igualdade na repressão e na servidão".
O advento do socialismo seria um salto do reino da necessidade para o reino da liberdade. É importante perceber a sutil alteração do sentido a que se submeteu a palavra liberdade para tornar plausível esse argumento. Para que o homem pudesse ser verdadeiramente livre, o "despotismo da necessidade material" deveria ser vencido, e atenuadas "as restrições decorrentes do sistema econômico". Liberdade nesse sentido não passa, é claro, de um sinônimo de poder ou riqueza. A reivindicação da nova liberdade não passava, assim, da velha reivindicação de uma distribuição eqüitativa da riqueza. Mas o novo rótulo forneceu aos socialistas mais uma palavra em comum com os liberais, e eles a exploraram ao máximo, a despeito do novo sentido dado àquela palavra.
A promessa de maior liberdade tornou-se uma das armas mais eficazes da propaganda socialista. Foi inquestionavelmente a promessa de maior liberdade que atraiu um número crescente de liberais para o socialismo e tornou-os incapazes de perceber o conflito existente entre os princípios do socialismo e os do liberalismo. O socialismo foi aceito pela maior parte da intelligentsia como o herdeiro aparente da tradição liberal. Nos últimos anos, porém, esse erro foi tornando-se claro. Foi-se tornando clara a extraordinária semelhança, em muitos aspectos, das condições de vida nos regimes fascista e comunista.
Enquanto para muitos que observaram de perto a transição do socialismo para o fascismo, a relação entre os dois sistemas ficou cada mais evidente, na Inglaterra a maioria ainda acredita que o socialismo e liberdade ainda podem ser conciliados.
O socialismo democrático, a grande utopia das últimas gerações, não só é irrealizável, mas o próprio esforço necessário para concretizá-lo gera algo tão inteiramente diverso que poucos dos que agora o desejam estariam dispostos a aceitar as suas conseqüências.
III. INDIVIDUALISMO E COLETIVISMO
Há um equívoco com relação ao conceito de socialismo, que pode significar os ideais de justiça social e maior igualdade, mas o fato é que significa também a abolição da iniciativa privada e da propriedade privada dos meios de produção, e a criação de um sistema de "economia planejada" no qual o empresário que trabalha visando ao lucro é substituído por um órgão central de planejamento. Os fins ou objetivos do socialismo devem ser avaliados juntamente com os meios usados na sua realização. Não podemos nos esquecer de que o socialismo é uma espécie de coletivismo e que, portanto, tudo o que se aplica ao coletivismo se aplica também ao socialismo.
Quase todos os pontos de divergência entre socialistas e liberais referem-se aos métodos comuns a todas as formas de coletivismo, e não aos fins específicos para os quais os socialistas desejam empregá-los.
O conceito de "planejamento" deve sua popularidade em grande parte ao fato de todos desejarmos, obviamente, resolver os problemas ordinários da forma mais racional e de, para tanto, precisarmos utilizar toda a capacidade de previsão possível. Nesse sentido, somos todos planejadores. Mas o que os planejadores exigem é um controle centralizado de toda a atividade econômica de acordo com um plano único, que estabeleça a maneira pela qual os recursos da sociedade sejam "conscientemente dirigidos" a fim de servir a determinados fins.
A doutrina liberal baseia-se na convicção de que a concorrência é a melhor maneira de decidir sobre o uso dos recursos escassos; e reconhece que para ser eficaz a concorrência requer a existência de uma estrutura legal cuidadosamente elaborada. Além disso, os liberais reconhecem que quando a concorrência falha, outros métodos de orientar as atividades econômicas se fazem necessários. Mas são contrários à substituição da concorrência de mercado por outros métodos menos eficazes de coordenação dos esforços individuais.
Não basta, para a eficácia do mercado, que a lei reconheça o princípio da propriedade privada e da liberdade de contrato; também é importante uma definição precisa do direito de propriedade.
Finalmente, há certos campos nos quais, sem dúvida, nenhuma disposição legal poderá criar a condição primeira da qual depende a eficácia do sistema: que o proprietário se beneficie de todos os serviços úteis prestados pela sua propriedade e sofra as conseqüências dos danos causados pelo seu uso. Quando isso não se dá, faz-se necessária a ação das autoridades para a correção dos desvios oriundos de externalidades positivas e negativas.
A criação de uma estrutura institucional adequada ao funcionamento benéfico da concorrência estava longe de ser completada quando, em toda a parte, os Estados começaram a substituí-la por um princípio diferente e inconciliável. Já não se tratava de fazer funcionar a concorrência e de complementar-lhe a ação, mas de substituí-la por completo. O que une os socialistas de esquerda e direita é essa hostilidade à concorrência e o desejo de substituí-la por uma economia dirigida.
A luta universal contra a concorrência promete gerar, antes de tudo, algo ainda pior: uma situação que não pode satisfazer nem planejadores nem liberais, uma espécie de organização sindicalista ou "corporativista" na qual a concorrência é mais ou menos suprimida, mas o planejamento fica nas mãos de monopólios independentes, controlados por setores específicos da economia.
Muitos ainda acreditam que é possível encontrar um meio-termo entre concorrência e dirigismo central. Isso não é viável, pois os dois métodos são fracos e ineficientes quando incompletos. O planejamento e a concorrência só podem ser combinados quando se planeja visando concorrência, nunca contra ela.