quinta-feira, 24 de maio de 2007

Revisitando Adoniram Barbosa


Amigos, nos últimos meses venho revisitando a grandiosa obra de um dos maiores compositores que este país já produziu: Adoniram Barbosa.


Suas letras nos apresentam uma delicada e bem humorada crítica social as grandes mazelas nacionais, especialmente no que se refere ao déficit habitacional.


Encontramos em Adoniram um universo que além dos tradicionais butecos e casos de amor de qualquer bom samba, é marcado pela dura vida das chamadas "malocas", dos inevitáveis despejos, humilhações.


E a linguagem? Nossa, outro diferencial. É a língua do povo, nas vozes dos Demônios da Garoa - grupo que abraçou a alma e a obra de Adoniram.


E vou além, na obra de Adoniram encontramos aquele típico brasileiro que acadêmicos como o historiador Sérgio Burque de Holanda apontam como "cordial", aquele que a tudo dá um "jeitinho", fechando os olhos para os problemas, evitando os enfrentamentos, a luta de classes. Para ilustrar, deixo aqui as passagens:






  • MALOCA DOS MEUS AMORES: "DESDE QUE MUDEI PRA CIDADE, MI ADISCUIPA ESSA VERDADE, NÃO ME SINTO BEM, CADA VEZ QUE UMA MALOCA É DERRUBADA, SEU DOUTOR TEM A PALAVRA: É O POGRESSO QUE FEZ".


  • BARRACÃO: "BARRACÃO PEGOU FOGO, NÓIS FIQUEMOS SEM LAR, IZABEL SAIU GRITANDO - ONDE NÓIS VAI MORA? IZABEL VIVE A PERGUNTAR: ONDE É QUE NÓIS VAI MORA? PACIENÇA IZABÉ, NÓIS VAI PA CASA DA MINHA VÉIA."


  • SAUDOSA MALOCA: "MAS UM DIA, NÓIS NEM PODE SE ALEMBRAR, VEIO OS HOMES COM AS FERRAMENTAS QUE O DONO MANDOU DERRUBAR. PEGUEMOS TODAS NOSSAS COISA E FUMO PRO MEIO DA RUA APRECIA A DEMOLIÇÃO. QUE TRISTEZA QUE NÓIS SENTIA, CADA TAUBA QUE CAÍA DOÍA NO CORAÇÃO. MATO GROSSO QUIS GRITAR, MAS LÁ DE CIMA EU FALEI 'OS HOMES TÃO CÁ RAZÃO, NÓIS ARRANJA OUTRO LUGAR', SÓ SE CONFORMEMO QUANDO O JOCA FALOU 'DEUS DÁ O FRIO, CONFORME O COBERTOR' E HOJE NÓIS PEGA PAIA NAS GRAMAS DO JARDIM E PRA ESQUECER NÓIS CANTEMOS ASSIM...."


Bom demais, não é mesmo? Abraços Liberais a todos!



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