A esquerda brasileira ainda não se recuperou da queda do muro de Berlim, do fim do projeto socialista pelas vias elaboradas desde a pedra angular do século 19 com Marx e Engels até os anos sessenta do último século com o que chamo de “triplo caminho para o abismo”: os modelos sócio-político-econômicos chinês, soviético e cubano.
Quem é a esquerda hoje? O Partido dos Trabalhadores, duvido muito. O PT está mais próximo do velho Partido da Frente Liberal (PFL) do que se poderia imaginar, bastando para isso assistirmos a sua consolidação como partido forte na região antes habitat natural do pefelismo: o Nordeste. Lula se reelegeu, ano passado, com o voto em uníssono do nordeste brasileiro e seu incalculável grotão de miséria, devidamente servilizado pelo bolsa família. A região centro-sul do país, onde se concentra a população marcadamente mais escolarizada, com melhores condições de vida, sejam nas camadas medianas ou mais ricas, abandonou Lula após 4 anos de muitas frustrações e desilusões entre 2002-2006.
E o PSDB? Não difere muito do projeto e do modelo petista de governar, de pensar e fazer política. São verdadeiras “farinhas do mesmo saco” ideológico, a social-democracia com vinculações tipicamente européias. Se o PT se construiu pela via popular, o PSDB se construiu pela via acadêmica, mesmo que surgido como rachadura do PMDB.
É o fenômeno que apontamos como a “geléia geral” da política brasileira. Todos são iguais, todos agem da mesma forma e pensam da mesma maneira. O que difere uns dos outros é detalhe mínimo, por isso a importância hoje dada aos marketeiros políticos – vejam o que o PT gastou com Lula Mendonça nas eleições de 2002!! Ao marketeiro é dada a difícil missão de construir um candidato, com perfil vencedor, que convença os eleitores brasileiros de que vale a pena votar nele e que ele é diferente dos demais, diferente do que está ai medianamente.
Assim, a “esperança” depositada em Lula em 2002 se construiu e se mostrou como argumento mais do que suficiente para sua vitória nas urnas. Depois de 8 anos com o PSDB e Fernando Henrique no poder isso ficou ainda mais fácil, já que o segundo mandato do PSDB arruinou o governo e o desgastou com a população – ávida por mudanças, transformações, que hoje sabemos que não vieram e não virão com Lula e o PT.
Mostra de que a esquerda, especialmente a brasileira, entrou em colapso é de que os dois grandes partidos que se dizem de esquerda, PT e PSDB, não o são. Os dois, só como exemplo, governando o Brasil desde 1994 (portanto 13 anos, alternando poderes) ainda não conseguiram e não implacaram qualquer avanço com relação a reforma agrária. E pior, ação social, uma agenda necessária para uma política de esquerda, transformou-se ao longo dos anos em neo-populismo com os bolsões oferecidos pelo Estado brasileiro que de elefante branco se transformará em baleia azul muito em breve.
E os que ainda carregam a “foice e o martelo” consigo: PSOL, PSTU, PCO, PC do B, PSB, PPS, são filhotes mutantes do “triplo caminho para o abismo”. Bradam revoluções infra-estruturais, dinamitam o capitalismo e o transformam em causa de todos os problemas, e se organizam, raivosamente (com espumas nos lábios mesmo) em movimentos sociais dos mais variados (desde associação de moradores, de bairro, entidades que representam os interesses de raças, credos, orientação sexual, ONGS, grupos que defendem a ecologia e a preservação do meio ambiente, grupos contra-culturais, etc).
Fico imaginando o que Marx e Engels estão sentindo em seu descanso eterno no inferno: muita vergonha e ira, certamente. O que as sociedades realizaram com o projeto original e utópico dos dois é uma amostra da complexidade dos seres humanos e de nossa infeliz capacidade de deturpar qualquer coisa ou pensamento em nome de uma verdade própria, já entendida como verdade a priori antes mesmo de imaginarmos construí-la.
Stálin e outros ditadores que o projeto socialista produziu fizeram uso da miserabilidade popular e da teoria marxiana para se instaurarem e se perpetuarem no poder, de maneira a governarem de maneira absoluta e inquestionável. E tudo sob o véu de um governo dito “popular” ou mesmo “revolucionário”. Afinal, como ir contra a vontade geral, a vontade popular? O argumento era uma justificativa plausível e eficiente.
Muitos morreram em nome do “povo”. Muitas cabeças rolaram, pescoços foram quebrados, pela vontade “popular”. A “vontade popular” que faz uso da dialética pela teoria que lhe dera o poder, mas que na vida prática não aceita a mesma dialética, visto que a “vontade popular” não consegue lidar com contradições. Não há contradições, diriam, pois o projeto final da sociedade é este comunismo no qual diziam estar caminhando em pisadas firmes.
E o que seria uma esquerda ainda possível? Aquela que se desligasse das raízes do marxismo, do próprio projeto socialista. Aquela que fizesse a leitura real do mundo pós-moderno em que vivemos, globalizado, mundializado e mercadilizado. Que lutasse, sempre, pelos direitos mais fundamentais dos homens, e não por uma classe de seres iluminados ou puros. Uma esquerda progressista, liberal e democrática.
Progressismo no trato com a política econômica, priorizando investimentos em setores estratégicos do país, que gerem riqueza, lucros, empregos e renda dentro do país. Liberalismo no trato com a sociedade, defendendo o respeito a vida, a propriedade e a dignidade humana – combatendo o crime, a impunidade, fazendo valer as leis. Democracia no trato com os mecanismos administrativos, na transparência da vida pública, na fiscalização do que é público, na garantia de que os impostos serão sempre destinados ao que é correto e melhor para o país.
Aliás, entendo que a divergência “esquerda e direita” deveria ser abandonada. Primeiro porque, antes de tudo, somos animais políticos por natureza (no sentido aristotélico), e depois a classe política de hoje, desde a modernidade, tende a se tornar uma categoria altamente profissional (como aponta Max Weber). Os políticos somos todos nós, porém o Estado moderno incorporou em si uma nova ordem política – dos políticos profissionais. E nós, amadores e profissionais, estamos todos, conscientes ou não, mergulhados no jogo político, na tomada de decisões dentro do que seria a nossa morada, a nossa “polis”.
Que caminhos devemos seguir? A esquerda ou a direita? As opções são tão variadas, e entrepostas, em termos de propostas e proposições, e o modelo democrático estimula tanto o debate de idéias, que não há como polarizar a vida política – seria uma espécie de ingenuidade intelectual (carregando ainda um pouco da cultura de Guerra Fria, de um lado os socialistas, os interessados na ação social e no coletivismo, e de outro os capitalistas, os interessados no livre jogo de mercado e nos interesses privados).
O que nós, enquanto brasileiros, deveríamos nos preocupar, era numa outra polarização: quem são honestos e quem são desonestos? Quem são comprometidos com o país e quem são comprometidos só consigo mesmos? E após vislumbrarmos toda esta realidade, separando o joio do trigo em termos práticos e não ideológicos, reiniciaríamos a nossa vida política – que parece necessitar ser reiniciada, do zero mesmo: que refundemos a nossa República, por uma nova e verdadeira república brasileira.
QUANDO TUDO VOLTAR AO NORMAL...
Será o dia em que:
- GENUINO será algo verdadeiro;
- GENRO apenas o marido da filha;
- SEVERINO apenas o
porteiro do prédio.
- FREUD voltará a ser o só criador da Psicanálise;
- LORENZETTI será só uma marca de chuveiro;
- GREENGALGH voltará a ser
um almirante que participou de nossa história;
- Dirceu, Palloci,
Delúbio, Silvio Pereira, Berzoini, Gedimar, Valdebran, Bargas, Expedito
Veloso, Gushiken, etc, serão simples presidiários.
- E LULA APENAS UM FRUTO DO MAR.
Agora quando olho meu titulo de eleitor entendo o
verdadeiro significado de "ZONA ELEITORAL".
E não é que o amigo Paulo Ghiraldelli Junior também “cansou”. Parabéns professor!
Até eu cansei
Até eu cansei. Ao ler nos jornais que a mãe de Grazi (BBB) recebia bolsa família, e que não teria ido mais pegar o dinheiro e, no entanto, o dinheiro estava sendo depositado, não consigo não sentir uma profunda prostração. Sim, é cansaço. O governo Lula está conseguindo nos derrotar. Não é só incompetência generalizada o que vemos. Não é só roubo. É pior que isso. É descaso para com a opinião pública.
O MEC vinha financiado o programa Brasil Alfabetizado, mas o dinheiro não chegava a lugar algum. Mas, como os que pegavam o dinheiro eram petistas ou ligados a instituições próximas de petistas ou do PT, não precisavam prestar contas. E isso não foi escândalo em um ministério administrado por um ministro picareta, foi na Educação, com o Fernando Haddad, que tenho em alta conta. E agora, mais essa, também em uma área social que tem a ver com a questão educacional. Isto é, começamos a perceber que o programa Bolsa Família – que já é um mal em si – é um escoadouro de dinheiro sem qualquer precaução ou administração.
Ao mesmo tempo em que isso ocorre, cada vez que tentamos nos relacionar com o governo ou com o funcionalismo público mais diretamente ligado ao poder central, mais percebemos que se trata de um governo que tem falta de quadros. Vai melhorar seus quadros? Não! Apenas está aumentando o número de cargos de confiança, sem que consiga provar a sua necessidade.
Por todo lado que tentamos fazer algo, nada funciona. E vamos realmente ficando cansados.
A Belíndia está desaparecendo. A Belíndia era como chamávamos o Brasil, que pelo fosso entre ricos e pobres e entre pólos desenvolvidos e pólos subdesenvolvidos, havia gerado um país que era a junção de dois, a Índia, do Terceiro Mundo e a Bélgica, do Primeiro Mundo. Agora não temos mais isso. A Bélgica que existia dentro do Brasil está desaparecendo. Fica claro quando freqüentamos lugares de classe média e média alta, e percebemos que eles estão degradados, em todos os sentidos.
Aeroporto era lugar de classe média – não funciona. Companhias aéreas tinham charme. Elas não possuem mais nenhum. Livrarias famosas já não possuem livreiros que conheçam livros, e embora tenham sofisticados cafés internos, seus banheiros não funcionam. Meninas do Mackenzie que antes sabiam inglês, agora sofrem para ler em português. A USP que era um berço da filosofia, agora tem professores desconhecidos e que escrevem em revistas cujo conteúdo e apenas pego de sites apócrifos da NET. Cinemas que podiam, até pouco tempo, alternar suas programações entre filmes de arte e filmes populares, agora optaram ou por uma linha ou por outra. Colégios de gente rica que ensinavam de verdade, agora são apostilados. Restaurantes legais em bairros nobres funcionam assim somente à noite, mantendo um self service popular no almoço. E até mesmo o café está ralo em lugares que até pouco tempo conservava-se o clima elegante de São Paulo. A Bélgica abandonou o Brasil. E a Índia, lá fora, nos superou. Não é mais termo de comparação. Pois a Índia ficou no Terceiro Mundo, e nós descemos para o Quarto Mundo.
Com o Programa Bolsa-Família, não melhoramos em nada os pobres. E com a ineficácia e estupidez da política de Lula para a classe média, perdemos o pouco de desenvolvimento que tínhamos. O PT pode falar mal da Veja, e a Veja realmente é de direita e, não raro, chega até beirar o fascismo, mas há verdades em várias de suas manchetes. Uma delas, já velha, tinha uma verdade que agora não conseguimos não reconhecer: o Brasil ficou mais burro com o PT. O governo Lula tem um “ar” brega, algo parecido com rodoviária de periferia. Não funciona. Olha, até eu cansei.
Paulo Ghiraldelli Jr. "o Filósofo da cidade de S. Paulo"
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
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